Petição Manifesto Anti-praxe
Para: Sociedade académica de Portugal, Portugueses em geral
Exmo. Senhor Presidente da República
Exmo. Senhor Presidente da Assembleia da República
Exmo. Senhor Primeiro Ministro
Assunto: Manifesto Anti-praxe. Contra o cinzentismo da praxe.
Pretende-se com esta petição reavivar o manifesto anti-praxe publicado em http://manifestoantipraxe.web.pt/ , reforçando-se a condenação desta falsa tradição.
Através da Petição Pública Online pretendemos condenar veemente a praxe académica e dar a conhecer mais algumas das atrocidades cometidas em prol da praxe:
a) Na primeira semana de Outubro de 2010 foi distribuído em Bragança um folheto a anunciar “Mostras de caloiros 2010”. Vejam o link: http://anti-praxe.blogs.sapo.pt/17678.html.
b) Numa noite de Novembro de 2008, também em Bragança, deram entrada na urgência do hospital pelo menos três alunos com hipotermia depois de terem sido completamente encharcados com uma pasta de farelo e muita água e forçados a rebolar na relva que estava com temperatura negativa (-6ºC). Foram factos presenciados e relatados por um professor do ensino superior em Bragança mas a notícia foi prontamente abafada.
c) Diariamente continua-se a assistir a sessões de praxe mesmo em frente aos gabinetes dos docentes deixando-os envergonhados com os palavrões proferidos por estes jovens que são a nata da nossa sociedade. E também são estes alunos que enchem as discotecas e bares da cidade e faltam às aulas e reprovam. Os alunos recém-chegados são iniciados na boémia e os doutores provavelmente recebem comissão sobre o consumo do álcool.
Assim sendo, apresenta-se o texto original:
Porque vemos na praxe uma prática que atenta contra os mais elementares direitos humanos, nomeadamente a liberdade, a igualdade, a integridade física e psicológica e a livre expressão da individualidade, ao mesmo tempo que exalta os valores mais reaccionários da nossa sociedade.
Porque não vemos qualquer motivo para a existência de hierarquias entre estudantes, tendo em conta que todos/as devem ser tratados/as por igual nas relações interpessoais.
Porque acreditamos que a tradição nunca poderá ser um entrave à mudança e, muito menos, poderá alguma vez legitimar um comportamento inaceitável em qualquer sociedade.
Porque não aceitamos o poder auto-instituído e nada democrático dos organismos da praxe, que se constituem em estruturas paralelas com regras próprias.
Defendemos que a recepção aos/às novos alunos/as, sempre que se justifique a sua existência, se deve basear em relações de igualdade. Nesta iniciativa, os/as estudantes olhar-se-ão nos olhos e tratar-se-ão por "tu", construindo um conjunto de redes de solidariedade e de camaradagem não exclusivas. Todos/as se divertirão por igual, deixando a diversão de uns de ser a humilhação de outros/as. Desta forma, incentivar-se-á o verdadeiro altruísmo que consiste em ajudar os/as outros/as sem exigir qualquer contrapartida.
Defendemos igualmente que a faculdade deve ser uma instituição aberta ao mundo que a rodeia, transformando-o e sendo por ele transformada. Uma instituição que deve proporcionar a livre intervenção e fomentar a criatividade, não impondo códigos de conduta nem promovendo a segregação. Mas este ideal nunca será concretizável enquanto o espírito da praxe reinar na faculdade.
Exigimos ainda que as instituições de Ensino Superior tomem sobre si a responsabilidade de prestar todas as informações e aconselhamento necessários aos/às estudantes, quebrando assim com o princípio paternalista do "apadrinhamento" que compromete e fragiliza a autonomia dos recém-chegados.
Exercemos desta forma o nosso direito à indignação. Como parte da sociedade civil pensamos que o que se passa no interior das faculdades diz respeito a todos/as. Logo, jamais poderemos fechar os olhos à triste realidade das "tradições académicas". E juntamos a nossa voz à voz de todos e todas que lutam diariamente contra o cinzentismo da praxe e se batem por uma faculdade crítica, aberta e democrática!
8 de Outubro de 2010
Na expectativa de sensibilização que leve à interdição da praxe,
atentamente
Os signatários
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