Carta aberta sobre o futuro do Ramal da Alfândega no Porto
Para: Caro Sr. Presidente da Câmara do Porto
A Câmara Municipal do Porto (CMP) decidiu reaproveitar o Ramal da Alfândega, linha férrea com 4 km de extensão que liga Campanhã à Alfândega pela beira-rio e em túnel, e que está encerrada há 31 anos.
Há seis meses comunicou que a decisão ia ser tomada após um debate público alargado entre duas alternativas:
1) percurso para peões e ciclistas ("ecopista"),
2) comboio ou elétrico para passageiros. Porém, no dia 22/6/2020 o executivo anunciou que vai avançar já com uma ecopista temporária enquanto não faz uma escolha final.
É contra esta solução transitória que o GARRA (Grupo de Acção para a Reabilitação do Ramal da Alfândega, fundado em 2005) se manifestou através de uma carta aberta (que podem ler aqui), pedindo ao Município, aos especialistas e aos Portuenses que discutam e tomem já uma decisão definitiva, idealmente de transporte ferroviário de passageiros.
A nossa posição fundamenta-se em argumentos de mobilidade, ambiente, inclusão social, custos e até segurança:
- 33% do Ramal é em túnel, mau em termos fruição e de segurança para peões e ciclistas;
- O Ramal tem bastante declive (63 metros), pouco agradável para circular a pé ou de bicicleta;
- Já existe uma ciclovia paralela ao Ramal, apenas 30 metros abaixo dele, entre a Ponte D. Luís e a Ponte do Freixo;
- A “ecopista temporária” custaria quase € 1 milhão, dos quais pelo menos 1/3 não teria aproveitamento numa eventual solução definitiva de ferrovia;
- Com apenas € 4 milhões (que corresponde apenas 2% do investimento em curso para os 3 Km da linha Rosa do Metro do Porto, ou 6% do investimento que a CMP fez em 2019) é possível colocar já uma automotora a diesel a circular sendo que mais à frente, gastando mais € 4 milhões, pode conseguir-se um veículo a hidrogénio ou bateria para tornar o ramal pioneiro nas energias limpas.
- Segundo a própria CMP, “a ligação rápida entre Campanhã e a Alfândega constituiria um serviço de mobilidade inédito entre estes dois pólos de elevada atração urbana, tendo como principal objetivo a redução do número de veículos motorizados que entram diariamente na cidade.”
- A ferrovia no Ramal potencia a renovação da Ponte D. Maria (única obra de Eiffel na cidade), ligando-a ao resto da cidade e tornando-a uma âncora do turismo cultural no Porto.
- A ferrovia atrairá todo o tipo de público, reforçando a inclusão da parte Oriental na cidade e na mobilidade, e ligará o Centro de Congressos da Alfândega do Porto ao aeroporto em menos de 60 minutos.
Em síntese, consideramos que a ecopista corresponderia a uma visão pouco ambiciosa e inclusiva para o Porto. Pelo contrário, a ferrovia no Ramal é uma aposta num Porto sustentável, e a única opção que maximiza a utilidade desta via entre o grande centro intermodal de transportes e o centro histórico da cidade, que hoje custaria muitas dezenas de milhões a construir.
Convidamos os cidadãos do Porto a subscreverem este apelo cívico para juntos fazermos a diferença. Estamos ao vosso dispor!
Pode ler a carta em versão extensa no seguinte link:
https://drive.google.com/file/d/1mHybRndOO19C-ILgvxFV0aNTgSyxK7P1/view?usp=sharing
Acrescentamos que a nossa posição evoluiu da defesa do comboio (a diesel ou elétrico ou a hidrogénio) para a de um transporte público (elétrico, sobre carris ou pneus, autónomo ou não), com base nas opiniões e argumentos que a discussão pública tem tido.
GARRA – Grupo de Acção para a Reabilitação do Ramal da Alfândega
Jorge Mayer
Nuno Quental
Pedro Pardinhas