Pelo fim dos anúncios televisivos a automóveis
Para: Entidade Reguladora para a Comunicação Social, Assembleia da República
MARKETING QUE PAROU DE INCENTIVAR PRÁTICAS PREJUDICIAS
- Há uns anos tomamos consciência coletiva do quão danoso era o tabaco para a saúde pública - de forma a tentar combater ou pelo menos não promover a sua utilização deixámos de lhe fazer propaganda, fazendo exatamente o contrário nos dias que correm: colocamos imagens impressionantes nas embalagens como forma de desincentivo.
- No ano passado assistimos a uma redução drástica dos anúncios de produtos com muito sal, açúcar e ácidos gordos.
MARKETING QUE CONTINUA A INCENTIVAR PRÁTICAS PÚBLICAS PREJUDICIAIS
- O tabaco tem, no entanto, uma diferença assinalável em relação ao automóvel de motor a combustão: neste momento quem fuma um cigarro tem de o fazer no exterior ou numa zona dedicada e assinalada para o efeito: faz por isso uma escolha individual de auto-prejuízo, sem prejudicar terceiros. Tendo sido tão importantes as medidas de proibição de fumar em locais fechados.
- O mesmo acontece com a ingestão excessiva de sal, açúcar e ácidos gordos: estamos também no campo do auto-prejuízo – mas como sabemos que a propaganda tem um forte papel de sedução agiu-se, e bem, para que especialmente os mais novos, com uma consciência ainda menos formada no que toca aos males da saúde, não fossem flagrantemente apanhados nessa teia de sedução que pode ter efeitos graves na sua saúde.
- Com o automóvel a escolha individual de auto-prejuízo é impossível: pela volumetria do carro e pelas emissões que este provoca, as escolhas relacionadas com aquele tornam-na sempre um assunto público, e neste caso um assunto de saúde pública. O que torna ainda mais urgente que, pelo menos na televisão, onde a história da sedução é muito mais impactante, os anúncios a automóveis parem já.
PORQUE É IMPORTANTE PARAR DE ALICIAR AS PESSOAS A COMPRAR CARROS:
- Em Portugal a poluição do ar causa cerca de seis mil mortes por ano, indicou a Agência Portuguesa do Ambiente.
- Em Lisboa, Porto e Braga está-se muito aquém dos níveis de qualidade do ar desejáveis, e o carro tem um papel decisivo no contributo para a poluição.
- Tivemos oportunidade de verificar uma melhoria da qualidade do ar durante o período de confinamento - É importante que haja esforços para que não voltemos aos índices de há poucos meses.
- Acreditamos que uma forma de pelo menos não promover o uso automóvel é terminar com publicidade televisiva a ele associada.
UM URBANISMO PARA AS PESSOAS E NÃO PARA OS AUTOMÓVEIS:
- Aprendemos com o confinamento que temos demasiado espaço dedicado ao automóvel, demasiadas estradas, demasiado estacionamento.
- Por isso a petição para o fim da publicidade televisiva a automóveis estende-se também aos carros elétricos ou qualquer outra energia que possa surgir no futuro - acreditamos, à semelhança do que já está a acontecer noutras capitais europeias e em outros pontos do mundo que é preciso redesenhar o urbanismo das cidades.
- É urgente que o espaço público deixe de dar prioridade ao carro e redefina as suas prioridades, numa forte valorização do transporte público e das mobilidades suaves e partilhadas, para libertar espaço para as pessoas, para o comércio, para jardins...
- Um importante veículo para esse trabalho é a publicidade: vamos publicitar mais sustentabilidade, vamos promover transportes públicos, vamos pensar em formas de atrair pessoas para as mobilidades suaves e de partilha.
PUBLICIDADE TELEVISIVA IRREALISTA E ENGANOSA
- A publicidade que vemos na televisão a automóveis passa por colocar os veículos em cidades vazias, sem trânsito ou então em cenários idílicos, no meio de uma montanha, numa linha de costa deserta etc. - mas quase todos os anúncios partilham algo: a quase não existência de mais carros.
- Bem sabemos que não é assim, a não ser que circulemos numa cidade em quarentena devido à covid-19 ou durante a noite: altura em que maior parte das pessoas não se encontra em circulação e a maior parte dos serviços se encontram encerrados.
- Durante um dia normal o que assistimos é a trânsito, engarrafamentos constantes, buzinadelas, carros a praticarem comportamentos abusivos, etc.
- Podemos concluir com isto que a publicidade dirigida aos automóveis é enganosa: cria um desejo e uma expectativa que não existe nas cidades; e quanto às paisagens naturais cria-nos uma necessidade de muitas vezes adquirirmos um JIPE ou SUV num desejo pela aventura perfeita - e depois? Depois quantas vezes usamos o Jipe ou o SUV para a tal aventura? Uma vez por ano?
- O vídeo do anúncio automóvel que acompanha esta petição é um exemplo entre muitos, invocando inclusive uma sensação de apropriação do automóvel que é ilegal: a circulação em passeio pedonal: no anúncio vemos o carro a circular por baixo da pala do Pavilhão de Portugal. link: https://www.youtube.com/watch?v=asJZbzOsMGs
O QUE PEDIMOS
- Fim dos anúncios televisivos dedicados ao automóvel, independentemente destes se materializarem em cidades vazias, em cenários idílicos, em atos ilegais ou num story telling emotivo e sedutor.
É importante ganharmos uma maior consciência das escolhas que fazemos relacionadas com o carro e é muito importante que o marketing opere também dessa forma consciente e sustentável, ou que pelo menos pare de promover comportamentos que são já considerados danosos de forma consolidada.
Não vamos continuar a publicitar o automóvel, que entre muitas outras coisas, é um dos grandes contribuintes para as 4.2 milhões/ano de mortes mundiais prematuras devido à poluição (dados da OMS), fora os números da sinistralidade rodoviária.
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Assinaram a petição
73
Pessoas
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