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Petição Anti inclusão do termo "mudasti" inventado pela Marca Nestea no Dicionário da Língua Portuguesa

Para: Ministério da Educação

A marca "Nestea" Portugal, parceria da Nestlé com a The Coca-Cola Company, conhecida pelos seus chás gelados (iced-tea) tem a decorrer uma recente campanha na sequência de um conjunto de 'spots' publicitários televisivos em que era sugerido ao consumidor que se mudasse de iced-tea (para o da marca Nestea). A expressão seria dita depressa e transformada assim num termo de palavra única, o "MUDASTI" (com o sentido de "muda de ice-tea").

A campanha em causa (televisiva e não só) pretende agora incluir este novo termo pela marca criado, o "mudasti", no Dicionário da Língua Portuguesa, de uma forma oficial, encontrando-se a angariar votos online e a solicitar assinaturas junto dos postos de venda dos produtos 'ice-tea'.

Foi criado um sítio na web para o efeito:
_ www.mudastinodicionario.com/
Neste Sítio são dadas ao consumidor duas opções de voto: vote "sim" ou "sim, claro". Ora isto não é de todo uma real opção de voto, além do que é completamente demagógico.

A justificação da marca para a inclusão do termo "mudasti" no Dicionário da Língua Portuguesa" é a de que o termo é já utilizado por um enorme número de falantes, o qual passou a fazer parte das suas vidas, e o qual significa não só a sugestão "muda de iced-tea" mas ainda, e cito:
«Imperativo, 2ª pes. sing.. No sentido lato: muda algo na tua vida; evolui; muda as tuas ideias; corta com o passado; persegue os teus sonhos; mantém uma atitude positiva.»

É ainda afirmado que o termo em causa é uma expressão idiomática, quando tal jamais foi aceite e regulamentado pelo Ministério da Educação.

Assim, deduz-se que é ainda induzida ao consumidor a ideia de que ao bebermos ice-tea Nestea, ou ao utilizarmos o termo, vislumbramos esperanças de evolução de vida, atitudes positivas, perseguição de sonhos.

A marca, e como é visível logo na "homepage", recorre constantemente a recompensas e incentivos em forma de prémios caso o consumidor decida apoiar o movimento.

A marca alega também que o termo "mudasti" ainda só não está no Dicionário por falta de espaço, uma vez que o Dicionário da Língua Portuguesa está cheio de termos que caíram em desuso na Língua e como tal faria mais sentido incluir-se um termo que já é usado por muitos portugueses e tem um significado e sentido válidos (não oficiais, atribuído pela marca).

A questão que venho levantar é se uma estratégia de marketing, para mais com base em recompensas materiais, pode justificar que se corrompa a integridade da Língua Portuguesa com um termo que creio profundamente não tem qualquer aplicação prática na Língua Portuguesa, qualquer origem etimológica nem construção sintáctica lógica, a não ser com base num trocadilho criado por uma marca de produtos industriais de consumo?


A marca afirma que o termo "mudasti" está conjugado no Imperativo na 2ª pessoa de singular, com o significado lato de "muda algo na tua vida; evolui", etc., e logo aqui a marca faz um erro crasso na conjugação dos verbos em Português, já que a palavra real a que "mudasti" se refere, que será "mudaste" (pensando no verbo e ignorando o trocadilho que a origina), é uma conjugação na 2ª pessoa do singular sim, mas do Pretérito Perfeito do Indicativo_ ou ainda, na 2ª do plural: "vós mudasteis", ainda mais próximo talvez de "mudasti", o que de usual e moderno não tem propriamente muito_ e não do referido Imperativo pois como a própria marca admite, a palavra significa: "muda"(no Imperativo)!


Ora "muda", na 2ª pessoa do singular, ou "mudem", na 2ª do plural, ou ainda "mudai" são, sim as formas imperativas correctas para o verbo 'mudar' no qual se apoia o termo "mudasti". Ou seja, não é possível ordenar a alguém : "mudasti algo na tua vida", mas sim : "muda algo na tua vida", a menos que nos referíssemos a uma afirmação sobre um acontecimento passado, ou seja: "reparei que mudaste algo na tua vida", onde poderia então ser aplicado o termo "mudasti": "reparei que mudasti algo na tua vida" e ainda assim, não estaríamos a ordenar nada, mas sim a referirmos-nos a um acontecimento passado...


Como não podia deixar de ser, por uma questão de coerência, a marca distribui gratuitamente dicionários (formato DvD) com o novo acordo ortográfico (o qual parece assim apoiar) em troca da aquisição de um pack Nestea por parte do consumidor, por forma a justificar que se corrompa mais um pouco a Língua incluindo o termo "mudasti", já que o novo Acordo Ortográfico vem abrir caminho a isso mesmo.

A marca lança ainda a provocação através de um contador de votos 'online' o qual supostamente indica mais de dez milhões de votos, já que como é lá dito: "quem cala consente".
É por isso que eu não me calo.

A (nossa) Língua define a nossa identidade, a possibilidade de nos comunicarmos, de nos compreendermos. Uma Língua tem de obedecer a um código básico mínimo e estruturado para que faça sentido e seja comum aos falantes dessa mesma Língua.

Não é proibido por lei que se inventem palavras, cada um é livre de ter o seu próprio idiolecto, e naturalmente algumas palavras_ por força do hábito, da mudança e aparição de novas situações, objectos, conceitos, etc., ou de contágio linguístico_ acabam por se alterar, outras serem incluídas, ou adaptadas, quer seja por onomatopeia, estrangeirismo, importação, mas acredito que o termo "mudasti" não define nem acrescenta nada de novo à Língua Portuguesa, pois a conjugação verbal "mudaste" já existe, e o imperativo "muda" também, com o sentido de incutir à mudança de vida, já existem canções nesse sentido, em bom português, sem para isso ter que ter sido feita nenhuma corrupção linguística, como no caso acontece, já que em português as palavras não terminam na vogal "i", pelo que também não soa agradável ao ouvido dos falantes.

A expressão/ideia na qual o termo "mudasti" assenta não tem qualquer sentido etimológico nem aplicação geral prática, a não ser num contexto muito específico de campanha publicitária, que é o caso da expressão "muda de iced-tea". Não é compreensível como se possa ver na expressão "muda de iced-tea" qualquer sugestão em sentido mais lato de incentivo a uma mudança de vida, a menos que o consumo do ice-tea Nestea tenha propriedades mágicas.

Sempre houve campanhas publicitárias que criavam termos e conceitos, recorde-se por exemplo a campanha do produto "Amukina" (uma solução líquida para a desinfecção dos legumes e fruta), onde o filho perguntava à mãe se já estava tudo "amukinado", e nem por isso a empresa se lembrou de reivindicar a inclusão do termo "amukinado" no Dicionário...

Eu sou portuguesa, eu não votei na petição da Nestea pelo que não posso fazer parte da estatística de 10 milhões, eu tenho uma voz e antes que tal obscenidade se concretize, venho dizer que não concordo com a inclusão do termo "mudasti" que para mim nada significa de aplicável e real, no Dicionário da Língua que também é minha.



Qual a sua opinião?

Esta petição foi criada em 21 julho 2010
A actual petição encontra-se alojada no site Petição Publica que disponibiliza um serviço público gratuito para todos os Portugueses apoiarem as causas em que acreditam e criarem petições online. Caso tenha alguma questão ou sugestão para o autor da Petição poderá fazê-lo através do seguinte link Contactar Autor
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