Petição pelo não regresso da Primeira Liga em Junho de 2020
Para: António Luís Santos da Costa - Primeiro Ministro de Portugal
Exmo. Sr Primeiro Ministro António Costa,
É com alguma admiração que, enquanto cidadão que se tem esmerado por ir ao encontro de todas as recomendações da DGS e do seu executivo relativamente ao combate à pandemia de Covid-19, me vejo agora confrontado com a notícia deveras absurda de que os jogos de futebol profissional da Primeira Liga iriam ser retomados. Peço-lhe que atente a algumas considerações:
- Entre as equipas presentes, respectivas equipas técnicas, staff administrativo e logístico de ambos os clubes, representantes da Liga e da Federação, árbitros, pessoal de saúde para primeiros socorros, staff do estádio, comunicação social e toda a equipa de técnicos necessária à transmissão dos mesmos, estamos a falar de uma média de 250 pessoas que se juntam, por jogo. Ora são 9 jogos por semana o que perfaz um total de 2250 pessoas que se encontram todas as semanas. Se contarmos que cada uma destas pessoas vive num agregado familiar de uma média de 3 pessoas, estamos a falar de um universo directo de potencial risco na casa dos 6750 cidadãos, por semana e vindos de todos os cantos do país.
- Nas medidas recentemente veiculadas propõe-se a continuação do dever cívico de recolhimento assim como a limitação de deslocações. E eu pergunto se o mesmo não deveria ser verdade para comitivas dos respectivos clubes e/ou restantes profissionais envolvidos a cada jogo. Estamos a falar de uma trupe que durante semanas será nómada. Porque os jogos poderão até decorrer todos no mesmo estádio mas as equipas terão de treinar noutros lugares assim como os restantes profissionais terão de regressar a casa.
- Parece-me elementar que no caso de se tratar de um exagero de zelo da minha parte a preocupação nestas linhas demonstrada, será então de uma grande injustiça que o retomar da primeira liga de futebol não seja igualmente o retomar da segunda liga, igualmente profissionais do sector, certo?
- E considero igualmente de elementar bom senso que, na perspectiva de reduzir ao máximo o número de pessoas envolvidas em cada jogo, os mesmos não só decorram à porta fechada mas com acesso proibido a todos aqueles que não estejam directamente relacionados com o decorrer do próprio jogo. Ou seja, sem cobertura televisiva, por exemplo. Bem sei que é exactamente essa a razão desta decisão. Bem sei que a cobertura televisiva dos jogos representa 60% das receitas de cada um dos ditos três grandes, e que as empresas Altice e NOS já retiveram os pagamentos relativos às mesmas transmissões por falta de jogos. Mas repare senhor Primeiro Ministro... Estamos todos no mesmo barco e não me parece justo que o futebol não obedeça aos mesmos sacrifícios que a todos nós nos são exigidos.
- Vejamos o exemplo de França ou Holanda. O carinhosamente intitulado desporto rei foi cancelado por tratar-se, efectivamente, de um entretenimento. E se todas as formas de entretenimento têm sido restritas, e bem, por precaução, é apenas justo que o futebol não seja excepção.
- Considero que a saúde pública não tem preço nem pode ceder a pressões de qualquer ordem, nomeadamente mercantilistas. Numa altura em que a todos nós nos é pedido um esforço suplementar, uma adaptação a uma nova realidade e a tantos sacrifícios, parece-me salutar evitar ceder a lobbies de qualquer espécie, nomeadamente futebolísticos.
Muito obrigado pela sua atenção caro Primeiro Ministro.
Cumprimentos,
António Aleixo
