Festivais de Música + Reserva Natural = Desastre ambiental
Para: Cidadãos Portugueses (+18 anos)
Movimento Cívico SOS Estuário do Douro preocupado com o impacto ambiental da realização do festival MEO Marés Vivas
De há anos a esta parte a Reserva Natural do Estuário do Rio Douro, composto essencialmente pelo cabedelo e por uma pequena zona húmida, ganhou uma extraordinária importância como local de estada, nidificação e passagem de milhares de aves selvagens, tendo sido identificadas até ao momento mais de 220 espécies, de que destacamos a águia-pesqueira, flamingos, falcão-peregrino, colhereiro, diversas espécies de garças, borrelhos e passeriformes de que destacamos o raro pisco-de-peito-azul.
Foi precisamente por reconhecer essa importância, defendê-la e promovê-la, que a Câmara Municipal de Gaia acabou por criar a Reserva Natural Local do Estuário do Douro, pequeníssima reserva de apenas 60 hectares, mas enorme na sua biodiversidade.
Foi com surpresa e indignação que muitos cidadãos tomaram conhecimento da vontade do actual executivo da Câmara Municipal de Gaia em realizar a edição deste ano do festival de música MEO MARÉS VIVAS num terreno que é sua propriedade, denominado Vale de Sampaio, contíguo aos limites da referida reserva, que durará, a ser realizado, três dias, sem contar com os dias de montagem e desmontagem de infra-estruturas, e movimentará dezenas de milhares de pessoas.
Após reuniões havidas com a Câmara Municipal de Gaia e a empresa promotora PEV entertainment, onde manifestamos a nossa indignação e procuramos sugerir outros locais, confrontamo-nos com a total indisponibilidade de ambas as instituições.
Embora o Festival só dure os referidos três dias, o impacto ambiental já começou com a destruição de uma valiosa zona de matos no referido Vale de São Paio, importantíssimo para a nidificação de várias espécies de aves, incluindo o único ponto de água doce do local (mina e presa) e onde, entre outras espécies de répteis e anfíbios, ocorria uma colónia de Lagarto-de-água (Lacerta schreiberi) , agora destruída, espécie que conta com abundante protecção legal.
Preocupados com a destruição em curso e com os impactos inevitáveis ainda a serem infligidos, um numeroso grupo de cidadãos constituíu-se no SOS ESTUÁRIO DO DOURO (Movimentos Cívico para a Defesa do Estuário do Douro), que agora se apresenta à opinião pública, lutando contra a realização do referido festival e a proliferação de projectos de construção na área em causa e zonas envolventes.
Organizar um festival de música paredes meias com uma reserva natural é, só por si, uma prova de falta de sensibilidade ambiental, em época de nidificação, por exemplo, do ameaçado Borrelho-de-coleira-interrompida (Kentish plover - Charadrius alexandrinus) e de início de passagem migratória de várias espécies como as Águias-pesqueiras (Osprey - Pandion haliaetus), vindas da Inglaterra, que usam o Estuário do Douro como área de repouso e alimentação (stopover), constitui uma ameaça fortíssima que pode destruir em poucos dias o trabalho feito durante anos.
O elevado ruído, a enorme movimentação de pessoas e viaturas durante vários dias, vai seguramente afastar as aves, facto agravado pela realização nocturna do festival, obrigando- as a voos no escuro confundidas pelos potentes projetores do festival.
Assim, apelamos à consciência ambiental dos Patrocinadores, dos Artistas e dos potenciais Espectadores para que não contribuam para mais este atentado ambiental, especialmente à sensibilidade dos Artistas, pedindo-lhes que se recusem a atuar no “Meo Marés Vivas”.
Sir Elton John, Cavaleiro do Império Britânico, não irá gostar de saber que as Águias-pesqueiras, em cuja conservação a Inglaterra tanto apostou, vão ser importunadas em Gaia, na sua passagem migratória e dispersão de juvenis.
NÃO somos contra o festival, mas SIM contra a sua localização!
festivais de música + reserva natural = desastre ambiental
Porto,13 de Abril de 2016
Movimento Cívico para a Defesa do Estuário do Douro
