Condecoração nacional para Margarida de Santos Sousa, cidadã portuguesa residente em Paris
Para: Sua Excelência o Senhor Presidente da República Portuguesa,
A Sua Excelência o Senhor Presidente da República Portuguesa,
CC. Sua Excelência o Presidente da Assembleia da República
Sua Excelência o Senhor Embaixador da República Francesa em Portugal
Sua Excelência o Senhor Embaixador da República Portuguesa em França
Perante o conhecimento transmitido pela comunicação social dos atos individuais da cidadã portuguesa Margarida de Santos Sousa, residente em Paris (onde exerce a profissão de porteira), praticados na noite de 13 de Novembro de 2015, os cidadãos abaixo-assinados, consideram de justiça e ato muito relevante, também no atual contexto gerado pelos acontecimentos dessa noite, que o Estado Português, à semelhança do que já fez o seu Município de origem, lhe evidencie reconhecimento e atribua uma condecoração nacional.
Evidentemente que esse reconhecimento formal em nada se acrescentará ao elevado valor intrínseco das ações que praticou.
Contudo, a atribuição da condecoração, que depende da iniciativa de V.Exa. além de, com certeza, ter profundo significado para a cidadã em causa, terá elevado valor simbólico junto das comunidades portuguesas residentes no estrangeiro e representará um sinal claro de opção pela defesa dos valores que o terrorismo, por seu lado, quer atacar.
Entre as razões para tal destaca-se:
1. O reconhecimento do valor e significado ético dos seus atos individuais, de pessoa comum, mas confrontada com circunstâncias excecionais. Atos que incluíram escolhas de algum risco pessoal (quer no quadro de violência, ocorrido nessa noite, quer no entendimento do âmbito das suas funções, visto que, sendo sua função controlar o acesso ao prédio onde trabalha, percebeu que essa incumbência, meramente funcional, deveria ceder, sem hesitações burocráticas, perante a urgência de socorrer todos os que lhe apareceram à porta);
2. O concreto peso daquilo que realizou, ao ajudar e proteger várias pessoas, dando asilo e socorro, sem questionar ou duvidar dos desconhecidos, que entraram na sua casa, e no prédio onde trabalhava, desde o primeiro momento, e com disponibilidade humana solidária;
3. O valor que se destaca da observação do resultado dos seus atos já que, numa noite em que houve mais de uma centena de mortos e feridos, a sua ação simples e generosa permitiu ajudar a evitar o acréscimo de mais umas dezenas a essa lista;
4. E, finalmente, o valor de cidadania do reconhecimento que a esses atos se pode fazer, considerando os signatários que as suas ações individuais, realizadas por uma pessoa comum, por sinal de nacionalidade portuguesa, são excelente padrão da atitude e comportamentos que se desejaria ver multiplicada na nossa comunidade e assumido como valores sempre associáveis a Portugal.
Assim sendo, e considerando que a atribuição de condecorações nacionais é, muitas vezes, associada a solenidade excessiva, que lhes retira significado e as torna distantes das pessoas comuns, sintoma que este caso permitiria minorar, apela-se a Vossa Excelência para que, com celeridade, pondere a referida atribuição pelos motivos apontados.
Na verdade, e no contexto em que tanto se referem na opinião pública os valores da Liberdade, Igualdade e Fraternidade, os atos concretos da pessoa que se pretende ver homenageada, representaram esses valores, com simplicidade, mas visibilidade, e com resultados que merecem reconhecimento de todos os que valorizem o seu significado já que, pela sua ação livre e sem hesitações, protegeu sem discriminar e com sentimento aberto de fraternidade.