Vamos pôr a desnutrição na agenda política!
Para: Exmo. Sr. Ministro da Saúde, Assembleia da República
Na atual era da epidemia de obesidade, a atenção por parte dos decisores políticos e das campanhas de promoção da saúde têm-se focado na otimização dos hábitos alimentares com vista à redução ou manutenção do peso corporal. Contudo há uma outra face negligenciada da alimentação, que é a desnutrição. Ao contrário do que é a perceção geral, incluindo a de muitos profissionais de saúde, a desnutrição não é um problema exclusivo dos países subdesenvolvidos, pois também constitui um grave problema de saúde pública nas sociedades industrializadas onde nos incluímos. A desnutrição resulta de um deficit calórico-proteico (falta de energia e proteínas) bem como de outros nutrientes essenciais. Esta condição está associada a um aumento da morbilidade e mortalidade evitáveis, se diagnosticada e corrigida atempadamente. Em 2003 a União Europeia publicou uma resolução “Resolution ResAP(2003)3 on food and nutritional care in hospitals” com vista ao combate à má nutrição hospitalar. Em 2007 a Associação Portuguesa de Nutricionistas (APN) efetuou um comunicado à imprensa alertando para esta realidade e para a importância de implementação das recomendações da diretiva europeia em questão. No nosso país já existem profissionais que desenvolveram um extenso trabalho sobre esta problemática, quantificando inclusivamente os custos financeiros relacionados com a falta de prevenção e tratamento da má nutrição. Contudo, em Portugal, (tal como em outros países europeus) continua a não existir um rastreio e tratamento sistemáticos desta condição na maioria das instituições de saúde e na comunidade, pelo que urge que o Ministério da Saúde torne mandatório e de cobertura universal o rastreio e tratamento da desnutrição no sistema nacional de saúde e na comunidade, com incidência particular nas populações mais vulneráveis, onde se incluem as crianças, grávidas, idosos, doentes e indivíduos com baixos rendimentos ou socialmente excluídos.