Alteração de fornecedor de vigilância e segurança
Para: Exma. Sra. Presidente do IPP - Professora Doutora Rosário Gambôa
Exma. Sra.
Presidente do IPP
Professora Doutora Rosário Gambôa
Tomamos a liberdade de lhe escrever na sequência da comunicação anexa recebida pela comunidade escolar da ESMAE relativamente à entrada ao serviço de uma nova equipa de segurança, como resultado de um concurso processado ao nível do IPP.
Não sabemos em moldes se processou esse concurso. Confiamos plenamente que terá sido baseado em regras e parâmetros que procuraram defender os melhores interesses da ESMAE e do IPP, e garantir uma avaliação transparente, justa e imparcial. Não pretendemos com esta mensagem colocar em causa essa avaliação e quem a fez, mas enquanto utentes da ESMAE temos o dever de comunicar o nosso parecer sobre o impacto que esta decisão terá no funcionamento normal das actividades da ESMAE.
A actual (se ainda o é) equipa de segurança encontra-se na escola há mais tempo do que parte significativa do corpo docente, alguns dos seus membros há 13, 15, 17 e 20 anos. Ao longo desse período conseguiu construir com os utentes da ESMAE uma relação de confiança baseada num profissionalismo exemplar e numa eficiência que ultrapassa largamente as suas competências. Conhecedores profundos da realidade humana e logística da escola (não estaremos a exagerar ao dizer que muito provavelmente sabem o nome de todos os alunos da escola, em que curso estão e que instrumento tocam), não param de surpreender pela capacidade de encontrar soluções para problemas que parecem não as ter.
O empenho que colocam para conseguir algo tão simples como obter uma sala para que um aluno possa estudar (o pão nosso de cada dia), um espaço adequado para uma aula ou para uma actividade extra-curricular, é um contributo inestimável para o cumprimento da nossa missão. Fazem-no recorrendo a um mapa mental que foram elaborando empiricamente, inundado de dados que retiram do contacto quotidiano com cada um de nós em breves ou menos breves conversas repletas de simpatia e dedicação. Não existe certamente um software de gestão de espaços e materiais capaz sequer de chegar perto deste processo que realizam com espontaneidade e simpatia.
Não é possível contabilizar quantas horas de trabalho já foram poupadas na ESMAE pela equipa de segurança ao longo destes. Muitas centenas ou milhares, seguramente.
Mas a equipa de segurança faz muito mais do que isso. Contribui muito largamente para a criação de um espírito positivo na escola, que tanto nos ajuda a lidar com as muitas e crescentes dificuldades, e a sermos tão produtivos quanto possível. Diariamente acarinham e motivam os alunos (já vimos membros da segurança a assistirem a provas ou a actividades no THSC em dias de folga) mas também os alertam quando têm atitudes ou comportamentos inapropriados.
Embora certamente isso não esteja no âmbito das suas funções, a equipa de segurança funciona muitas vezes como alerta ou indicador de que algo não está bem com um aluno ou um grupo de alunos. A forma exemplar como interage com a comunidade discente permite obter pontos de vista que escapam aos professores; o seu bom senso permite que sejam capazes de alertar para um problema ou potencial problema nas entrelinhas de uma conversa.
Sabemos que não podemos, nem pretendemos, influenciar um concurso com uma preferência que poderemos apelidar de afectiva em relação a um proponente. Mas também de um ponto de vista financeiro, uma descontinuidade na equipa de segurança será necessariamente traduzida numa menor eficácia no funcionamento da escola. Isso irá custar muitas horas de trabalho, muitos euros, e uma pioria no desempenho de toda a comunidade. Mesmo contando com toda a boa vontade da nova equipa, irá demorar vários anos até que ela seja capaz de obter níveis de desempenho semelhantes, isto assumindo que estarão na disposição de agir positivamente fora do âmbito das suas funções, como a presente. Só a nível da gestão do equipamento, é de esperar que um pequeno caos se instale nos próximos tempos, com repercussões negativas directas nas nossas actividades.
Será que esta eficiência e nível de especialização foram considerados e contabilizados no concurso?
Mas finalmente, o que mais nos preocupa é pensar como pudemos tomar uma decisão tão contrária ao espírito da nossa missão. Sabemos que vivemos tempos perigosos, nos quais rapidamente o inaceitável se transforma em indesejável, o indesejável em tolerável e o tolerável na norma. Mas acreditamos que o ensino superior tem a obrigação de ser a vanguarda intelectual, espiritual e ética da sociedade. A designação “superior” e a nossa “autonomia” são acima de tudo responsabilidades às quais não nos podemos esquivar.
Que mensagem estamos a passar quando prescindimos dos serviços de um grupo de pessoas que quotidianamente demonstram um empenho e brio inexcedível no cumprimento das suas funções, com resultados que estão além do expectável? O que estamos a dizer aos nossos alunos? Que não importa o quanto se qualificam e quanto se tornam competentes porque a vida é suficientemente aleatória para que isso seja irrelevante? Que não vale a pena trabalhar com alegria, com um sentimento genuíno de atenção e consideração pelo outro, porque tudo isso pode desaparecer num momento por causa de uma pontuação?
Não sabemos quanto isto pode valer num concurso. Apenas sabemos o que vale para nós.
Com elevada consideração,
utentes da comunidade da ESMAE
Qual a sua opinião?