Salvar a ‘Casa da Igreja’ e a intervenção de Fernando Távora (Mondim de Basto)
Para: Património Cultural Instituto Público
1 – esta petição visa propor a classificação do conjunto da ‘Casa da Igreja’ com os seus terrenos agrícolas e dependências como imóvel de interesse público, perante a intenção da Câmara Municipal de Mondim de Basto (actual proprietária) de a intervencionar sem atender ao seu valor patrimonial e arquitectónico.
2 – a ‘Casa da Igreja’ é uma construção senhorial, brasonada, de traça barroca, com possíveis raízes no medievais, que foi profundamente reabilitada no final dos anos 50 pelo arquitecto Fernando Távora. Esta intervenção tem vindo a despertar crescente interesse académico e o imóvel já foi objecto de várias publicações científicas na área da Arquitectura.
3 – Fernando Távora foi um dos mais reconhecidos arquitectos portugueses, conhecido por unir a tradição e o modernismo (como é exemplar a ‘Casa da Igreja’). Foi também mestre e influenciou figuras como Siza Vieira ou Souto de Moura, projectando um legado determinante na arquitectura portuguesa.
4 – nesta intervenção Távora ensaiou aquilo que seria conhecido como a ‘terceira via’, integrando elementos modernos na construção antiga, numa lógica de diálogo e respeito pelo existente. Entre os elementos ainda hoje visíveis destacam-se as caixilharias, os painéis deslizantes em madeira ou uma imponente viga em betão armado na fachada tardoz que remata o projecto. Nesta zona posterior criou ainda um espaço de lazer com elementos verdes, fontanários e percursos cuidadosamente desenhados.
5 – o projecto apresentado pelo município, ignora por completo o valor do património edificado existente, propondo a demolição total do interior da construção, numa atitude meramente fachadista, bem como de algumas partes pétreas antigas. Prevê-se ainda eliminação dos elementos arquitectónicos criados por Távora, criando um pavilhão de cerca de 400m2, implantado precisamente sobre o espaço de lazer concebido pelo arquitecto. Trata-se de um programa totalmente desmesurado e descontextualizado.
6 – também sobre a restante propriedade está prevista a criação de diversos volumes, o que implica a destruição de elementos cruciais para o entendimento do conjunto, tais como elementos tradicionais de regadio ou um icónico pinheiro manso centenário que pontua o terreno, marco paisagístico local.
7 – Assim, apelamos à sociedade civil, às instituições culturais e a todos aqueles que reconhecem a importância da defesa e preservação do património, independentemente da sua época, que subscrevam esta petição e se associem ao pedido formal de classificação do conjunto da ‘Casa da Igreja’ como Imóvel de Interesse Público. Esta classificação permitirá um estudo e registo aprofundado, conduzido por entidade idónea, e abrirá caminho a uma intervenção verdadeiramente informada que garante a preservação deste legado para as gerações futuras.