Pela Preservação da Quinta de Santa Maria – Loures, às portas de Lisboa

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Camarate, Loures, 31 de Março de 2025

Ao Presidente e Vereadores da Câmara Municipal de Loures
À Assembleia Municipal de Loures
Ao Presidente e Junta de Freguesia de Camarate, Unhos e Apelação
À Assembleia de Freguesia de Camarate, Unhos e Apelação
Aos Senhores proprietários e promotores



A Quinta de Santa Maria é um valioso pulmão verde, situado às portas da cidade de Lisboa - na freguesia de Camarate, concelho de Loures. Pelos seus 8 hectares de zona arbórea e por toda a sua História que remonta a séculos passados, a Quinta de Santa Maria precisa de ser protegida, pois dela dependem todos os ecossistemas nela presentes, a saúde, o bem-estar e a segurança da população que vive nas suas redondezas.

Neste momento, está em risco de ser destruída para dar lugar a um mega armazém de distribuição:
"Santa Maria Park: o novo empreendimento industrial e logístico em Lisboa"
• https://search.savills.com/pt/pt/imovel-pormenor/pt1149l200001
• https://www.savills.pt/noticias-e-opiniao/noticias-da-savills/368017/santa-maria-park--o-mais-recente-projeto-industrial-e-logistico-na-zona-de-lisboa
• https://www.supplychainmagazine.pt/2024/10/16/santa-maria-park-o-novo-empreendimento-industrial-e-logistico-em-lisboa/
• https://www.construir.pt/2024/10/16/santa-maria-park-reforca-logistica-last-mile-em-lisboa


A execução deste projeto implica a devastação da Quinta de Santa Maria. 8 hectares de espaço verde serão aniquilados - uma área verde de dimensão aproximadamente igual:

- ao Jardim da Fundação Calouste Gulbenkian;
- à Tapada das Necessidades;
- ao Parque do Vale do Silêncio/Mata dos Olivais;
- ao Parque José Gomes Ferreira/Mata de Alvalade;
- ou ao Parque Marechal Carmona em Cascais.

O dobro da área do Parque da Cidade de Loures. A fauna (para além dos típicos animais domésticos, cavalos, ouriços, lebres, coelhos, inúmeros répteis, diversas aves, até por vezes falcões) e flora (extensa zona arbórea, constituída por pinheiros, oliveiras, palmeiras, figueiras, laranjeiras, entre outros tipos de árvores; arbustos em quantidade e qualidade relevantes) autóctones, típicas de um ecossistema mediterrânico terão o seu habitat completamente arrasado. Está previsto o abate de dezenas e dezenas de árvores com idade considerável e respeitável e o fim de uma das maiores áreas verdes da freguesia. É uma sentença de morte para uma das zonas com maior interesse ecológico e paisagístico da região.

Porém, os impactos deste futuro empreendimento industrial e logístico não ficarão limitados ao desaparecimento da verdejante Quinta de Santa Maria. O espaço adjacente a este mega projeto consiste numa área habitacional (Bairro de São José e Quinta da Arieira), uma casa de repouso (Casa de Repouso São José de Camarate), estando ainda nas redondezas duas escolas (Escola Básica de Camarate - Escola EB 2,3 Mário de Sá Carneiro; Escola Básica nº 1 de Camarate - Escola Primária de Camarate) e uma congregação religiosa (Convento das Irmãs Pias Discípulas do Divino Mestre).

Todas as populações residentes/utilizadoras das áreas acima referidas serão vítimas da poluição visual, sonora, atmosférica. É de salientar que o ruído e os gases poluentes emitidos pelos aviões que descolam e aterram no aeroporto de Lisboa, pelo tráfego da rede viária envolvente já contribuem bastante para os atuais níveis de poluição. Adicionalmente, a constante movimentação de veículos pesados nas vias de ligação à zona residencial levará a um permanente quadro de intranquilidade e falta de segurança rodoviária, especialmente pela circulação pedonal de crianças e jovens para as escolas. Os impactos previstos são insuportáveis e inadmissíveis para uma zona residencial com este nível de proximidade ao planeado pólo industrial e logístico.

Os motivos apresentados levam a concluir que este megaprojeto logístico é um péssimo exemplo (aliás, um contraexemplo) de desenvolvimento sustentável, às portas de uma capital, Lisboa, sufocada por problemas ambientais e sociais.

A preservação da Quinta de Santa Maria como pulmão verde da freguesia de Camarate e da zona norte da Grande Lisboa é fundamental. Nos séculos passados, a Quinta de Santa Maria foi habitada pela fidalguia rural, que conjugava a vida palaciana com a exploração das suas terras agrícolas. Em tempos ainda mais antigos, durante o período do Interregno (Crise dinástica de 1383-1385), D. Nuno Álvares Pereira recebeu e deteve várias quintas de Camarate (hoje muitas delas infelizmente destruídas). Por vontade do Santo Condestável, muitas destas terras foram integradas no património da Casa de Bragança. O futuro da Quinta de Santa Maria, com uma longa História que atravessou os séculos passados, tem de passar pela proteção do seu património histórico e ecológico, seguindo estes vetores diretores:

- a conservação da biodiversidade;
- a manutenção da qualidade de vida das zonas habitacionais adjacentes à Quinta de Santa Maria;
- a valorização de um espaço verde essencial à saúde mental e física das pessoas;
- a contribuição da área natural no combate ao aquecimento global e às alterações climáticas.

O futuro da Quinta de Santa Maria pode ter alternativa ao mega armazém de distribuição projetado. Propomos como alternativa a conversão da Quinta num extenso parque urbano, onde a Natureza e outras atividades se possam aliar para benefício da comunidade e do ambiente.

Na profunda crise climática em que vivemos, urge preservar este espaço verde da freguesia e do concelho, insistir na requalificação ambiental, transmitindo às próximas gerações os valores de dedicação, cuidado e preservação da Natureza. Este parque poderá ser um espaço verde, de recreio e lazer, para famílias, grupos de jovens. Poderá possuir uma zona de lazer, privilegiando atividades lúdicas presentes em parques infantis, zonas de skate, ciclismo, parque de merendas. Poderá estar dotado de uma Quinta Pedagógica, expondo e revivendo a História agrícola da Quinta de Santa Maria e conferindo visibilidade, potencial turístico e interesse a nível de toda a Área Metropolitana de Lisboa pela sua unicidade. Será para todos os visitantes um espaço ímpar de interação com a Natureza, com o mundo rural, dando a conhecer uma cuidada transição campo-cidade às portas de Lisboa. Todas estas hipóteses são possíveis de serem implementadas e nenhuma delas colide com o objetivo primordial de conservação da Natureza.

Diante deste cenário, apelamos à vossa intervenção para impedir a execução deste projeto de destruição ambiental e apoiar a transformação da Quinta de Santa Maria num espaço de preservação e de bem-estar para as futuras gerações. Acreditamos que este futuro parque urbano não só preservará o meio ambiente, como também trará benefícios sociais e económicos para a freguesia. O vosso poder decisório é crucial para salvarmos este importante património natural e histórico e para garantirmos que o desenvolvimento do concelho de Loures é pautado por soluções sustentáveis e respeitosas com o meio ambiente e com a qualidade de vida dos cidadãos. Queremos harmonia e equilíbrio entre Economia, Sociedade e Ambiente. Queremos Loures e Camarate no Centro.

Agradecemos desde já toda a disponibilidade e atenção dedicados a este assunto.



Com os melhores cumprimentos,

Os signatários

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