Pelo aumento do número de adultos em sala na creche d'A Voz do Operário
Para: Direção d'A Voz do Operário - Espaço Educativo da Graça
Imaginamos que não seja fácil gerir uma escola da dimensão d'A Voz do Operário. Sabemos que os desafios têm sido muitos, que há muitas necessidades e pouco financiamento. No entanto, esperamos que saibam que também é exatamente por serem A Voz do Operário que nós vos escolhemos enquanto escola para os nossos filhos. E pretendemos com esta carta que A Voz do Operário continue a ser capaz de fazer jus à sua reputação de escola de excelência.
Todos os dias observamos a dedicação com que todos os profissionais trabalham em prol do saudável crescimento e desenvolvimento das nossas crianças. Agradecemos muito todo o carinho, amor, e colo que lhes dão todos os dias. Prezamos a comunicação, a transparência e a honestidade com que nos recebem a cada dia. Procuramos sempre trabalhar em equipa com quem trabalha com os nossos filhos, naquilo que se pretende que seja uma escola - principalmente uma creche -, uma extensão da família. E por isso mesmo, não podemos deixar passar um facto que a todos nos tocou muito este ano: a redução do número de adultos por sala.
Não nos interessa se essa redução está de acordo com o que a lei dita ser o suficiente para uma creche funcionar. Quem escreve as leis provavelmente nunca entrou numa sala de creche. Mas nós sabemos o que é cuidar de um ou dois, quanto mais de 16 ou mais. Basta estar uns minutos numa sala de creche para se perceber que é impossível dois adultos conseguirem gerir todas as necessidades de forma saudável para todos. E pior, em muitos momentos do dia, em especial de manhã, já nos apercebemos que está apenas uma pessoa em sala, o que torna o acolhimento muito mais difícil, pois não é possível atender vários choros com um só colo. Há sempre alguma coisa que vai falhar, e o facto de tudo estar a correr bem até agora - ou melhor, não ter acontecido nenhum problema grave -, não significa que será sempre assim. Até porque, com tão poucos recursos humanos, sentimos que se tenta assegurar apenas o básico - que as crianças estão alimentadas, com fraldas limpas e com o mínimo de conflitos entre elas -, e fica pouco espaço para o verdadeiro trabalho educativo.
Claro que nos preocupa o bem estar dos nossos filhos, mas também o dos adultos que trabalham com os nossos filhos. Sabemos das taxas de burnout nos profissionais da educação, e as condições de trabalho estão fortemente associadas a este problema de saúde. Não queremos que as pessoas que são também figuras de vinculação dos nossos filhos trabalhem em condições que as possam adoecer, porque lhes queremos bem e porque não queremos que as nossas crianças tenham constantemente de quebrar vínculos que são tão importantes na primeira infância. Mas a direção também deveria estar preocupada com isto, pois do ponto de vista puramente administrativo, condições de trabalho que não promovem saúde só trazem mais problemas à já difícil gestão dos parcos recursos humanos.
Assim sendo, vimos pedir que se faça o esforço de repôr, o mais depressa possível, o rácio de adultos por sala na creche que anteriormente existia. Três adultos em sala conseguem mais facilmente atender todas as necessidades sem pôr em risco a saúde física e mental de todos.
Queremos continuar a acreditar no projeto educativo d'A Voz do Operário. Queremos que os nossos filhos cresçam nos valores d'A Voz do Operário. Mas quem faz a escola são as pessoas, e se essas pessoas não estiverem bem, se não cuidarmos dessas pessoas, o projeto educativo perde-se pelo caminho, bem como os valores. Por isso vos pedimos, cuidem das pessoas que trabalham connosco, para todos podermos cuidar bem dos nossos filhos. E não nos peçam para confundir a falta de recursos humanos com uma falsa promoção de autonomia, como já ouvimos dizer em alguns momentos. A verdadeira autonomia nasce da dependência; as crianças na creche precisam de mãos, de colos, de pessoas emocionalmente disponíveis para as acolher e conter. Deixá-las entregues a si próprias porque não há mãos a medir não é promover autonomia, mas sim um instinto de sobrevivência que não é o que é suposto numa escola, especialmente numa escola que se pretende humana, colaborativa, e de trabalho em prol do desenvolvimento de uma sociedade consciente e participativa.
Estamos disponíveis para fazer o que for necessário para melhorar a vida das nossas crianças e dos adultos que trabalham na creche.