Por um maior investimento em Energia Nuclear em Portugal
Para: Ex.mo Senhor Ministro do Ambiente e da Ação Climática João Pedro Matos Fernandes
Olá. O meu nome é Eduardo Oliveira e sou um estudante universitário na beira interior e venho hoje aqui dar voz aqueles que pretendem um maior investimento em energia nuclear no nosso país. Antes de mais, gostava de realçar que não sou de nenhum modo especialista neste tema, e que o curso ao qual frequento não está relacionado com o mesmo. De facto, toda a informação que vou tentar resumir aqui hoje foram factos que me foram confrontados ao longo de toda a minha vida e aos quais fui adicionando por a minha própria pesquisa. Efetivamente, será sempre de maior valor a opinião de um cientista, de um físico nuclear, de um engenheiro nuclear, ou de qualquer outro doutorado especialista nesta matéria. E é isso que quero promover antes de partir para qualquer discussão. Esta é no final do dia apenas a minha opinião e tudo o que está na internet deve ser sempre verificado antes de ser tido como a verdade. Nesta altura em que a informação nunca esteve tão acessível, é de notar a pouca importância que a opinião de verdadeiros especialistas tem no gigantesco poço de desinformação circulante.
É o grande objetivo do século XXI. Produzir grandes quantidades de energia, sem prejudicar o ambiente. Emissões de carbono 0. O abandono da utilização de combustíveis fosseis. São tudo premissas que têm o meu total apoio mas que me fizeram pensar, o porquê de passados tantos anos de investimento o nosso esforço continua a ser uma gota num oceano? Porque continuamos num mundo maioritariamente movido a fontes de energia altamente poluentes? De que vale o nosso carro elétrico, se a maior parte da energia que consumimos continua a vir destas fontes? Até que ponto as energias renováveis tradicionais são efetivamente limpas e eficientes? São tudo questões que poucos têm colocado, e é um necessário uma discussão urgente sobre o nosso plano para abordar as alterações climáticas. Eu não discordo do objetivo, eu discordo da solução que nos foi apresentada.
O primeiro grande problema que enfrenta a energia nuclear é a opinião pública. Nas últimas décadas fomos levados a acreditar que a energia nuclear não só é altamente poluente como um perigo para as sociedades que as utilizam. Mas quando questionadas o porquê de terem esta forte opinião, a maior parte oferece respostas pouco precisas ou mencionam dois nomes, Chernobyl e Fukushima. Em grande parte, o principal medo criado por Fukushima é que um qualquer desastre natural pode desencadear um desastre nuclear, mas olhemos para os factos. No desastre nuclear de Fukushima foi relatado um total de 1 morte e perto de 2 dezenas de feridos. Talvez mais relevante para este tópico, a organização mundial de saúde não relatou aumentos apreciáveis de abortos espontâneos ou distúrbios relacionados após o acidente. A investigação determinou que uma das principais causas para este acidente é que as centrais japonesas não estavam preparadas para enfrentar um terremoto e o subsequente tsunami apesar de operarem num país de alto risco para estes mesmos eventos. Hoje se decidir visitar a aldeia mais próxima da central, estará sido a exposto a um maior nível de radiação durante a sua viagem de avião do que na sua estadia. E chegamos a Chernobyl. Sem qualquer dúvida o mais famoso acidente nuclear na história, aquele que viria a mudar a opinião sobre a energia nuclear para as décadas que se seguiram, pelo menos no ocidente. De facto, esta é uma das grandes ironias de Chernobyl, o principal efeito antinuclear desta tragédia foi sentida com muito maior intensidade no ocidente do que na europa de leste e antiga união soviética, não deixa de ser engraçado. É difícil calcular o peso humano deste desastre tendo em conta que ocorreu na união soviética e que a maior parte das mortes se deram semanas ou até anos depois do acidente. Estimativas apontam entre 4000 e 20.000 mortes direta e indiretamente causadas pelo acidente. Embora qualquer perda humana seja sempre trágico, é de notar que quando questionadas sobre o número de mortes causadas por Chernobyl, a maior parte responde com um número bastante superior ao real. As causas deste acidente são impossíveis de resumir aqui, mas deveram-se em grande parte a incompetência, tecnologias obsoletas (mas baratas), e "politiquices" da união soviética.
A realidade é que a energia nuclear é segura, e até mesmo na altura da união soviética já o era assim considerado pela maior parte dos países. Chernobyl não foi um "wake up call" mas sim o início de uma narrativa que viria a alterar por completo a nossa perceção da energia nuclear e mudar para sempre o futuro do investimento em alternativas aos combustíveis fósseis. Mas então e a radiação? É de notar a quantidade de radiação a que estamos expostos durante o nosso dia-a-dia tanto de fontes naturais como de fontes artificias (sem contar com nuclear). Mas e se tivesse uma central nuclear ao lado de minha casa? De toda a radiação que uma pessoa seria exposta nesta situação ao longo da sua vida, apenas 0.3% viria desta central. 0.3%. 9.5% viria da minha alimentação.
Convém relembrar que morrem por ano cerca de 7 milhões de pessoas por poluição do ar, são cerca de 350 chernobyl(s) a cada ano que passa. Onde está a nossa preocupação aqui?
(Fonte:http://www.unscear.org/docs/reports/2008/11-80076_Report_2008_Annex_D.pdf).
Mas porquê focar tanto na energia nuclear? A realidade é que é desde algumas décadas a melhor maneira que a humanidade encontrou de gerar grandes quantidades de energia sem emissões de carbono e outros poluentes atmosféricos é a nuclear. Qualquer "fumo" que vejam sair de uma ursina, 100% é vapor de água, completamente inofensivo e não poluente. Talvez o maior defeito que podemos atribuir a esta solução é que gera efetivamente resíduos radioativos altamente tóxicos que precisam de ser processados e armazenados visto que estes irão demorar milhões de anos a se degradar por completo. Embora cada vez mais as centrais operam com maior eficiência produzindo menos "lixo" por unidade de energia produzida, este continua a ter de ser armazenado. Apesar disto, é um problema que pode ser resolvido e especialmente nos últimos anos, as centrais tem conseguido tratar destes resíduos em locais seguros com pouco ou nenhum impacto ambiental. Apesar disto, não deixa de ser o principal ponto negativo.
E agora entramos talvez na parte mais polémica. Energias renováveis são o anjo que vai salvar a humanidade? Não.
Quero ser claro que não sou de forma alguma contra energias renováveis. São claramente uma opção melhor do que a queima de combustíveis fósseis, mas se por um lado a energia nuclear teve a sua imagem publica destruída, as energias renováveis foram apresentadas de uma forma desonesta e imprecisa. De um ponto de vista de custo humano, se utilizarmos o indicador mortes por unidade de energia produzida, a energia nuclear é das menos mortais e de facto, muito menos mortal do que por exemplo a energia hidráulica. Infelizmente é mas emocionante falar de Chernobyl, do que das dezenas de acidentes mortais relacionados com barragens. Mas talvez mais relevante, é que a energia nuclear produz menos emissões de carbono do que a solar e hídrica e no que toca a produtos tóxicos, a solar é ainda hoje altamente poluente. Até mesmo a energia eólica, uma das mais facilmente visíveis em Portugal, tem o seu impacto ambiental e uma pegada de carbono que raramente é mencionada. A realidade é que, o que aprendemos nos nossos livros na escola foi, em grande parte, altamente embelezado. Tal pode ser observado empiricamente a observar dois países que tiveram iniciativas diferentes, França e Alemanha. Onde frança decidiu investir maioritariamente em energia nuclear, a Alemanha escolheu investir maioritariamente nas energias renováveis. Resultado? França produz cerca de 90% da sua energia de fontes limpas contra os 46% da Alemanha problema que vai continuar a piorar tendo em conta que o país germânico anunciou que irá continuar a encerrar as suas centrais nucleares. E talvez de importância para o consumidor, regra geral os países que escolhem investir largamente em energias renováveis têm também a maior fatura de eletricidade, muito por parte da baixa eficiência e alto custo associado a esta solução energética. A energia nuclear é vantajosa economicamente e poderá efetivamente oferecer maior margem de lucro para as empresas que a explorarem ao contrário do que acontece com a exploração de energias renováveis. “O mundo irá sempre seguir o dinheiro” e onde há interesse económico talvez haja investimento sério e, pela primeira vez, o lucro e o ambiente possam estar de mãos dadas a trabalhar para o mesmo objetivo.
Em suma, não sou contra energias renováveis tradicionais. Aliás prefiro um país que investe nestas, do um despreocupado com as suas emissões de carbono. Mas porquê escolher este gladiador para o combate, quando a ciência e os factos apontam para um gladiador que a curto e médio prazo poderá ter resultados muito superiores, resultados que podem de facto salvar o ambiente. E entristece-me quando vejo pseudo-ambientalistas que não seguem factos mas sim emoções, que atacam e pedem o fecho de centrais nucleares sem perceberem que a longo prazo estão a prejudicar o ambiente do qual se dizem defensores. Precisamos de ter uma reflexão séria sobre o rumo que estamos a levar, iniciar uma discussão aberta mas factual sobre as vantagens e desvantagens das soluções que propomos, e dar ouvidos a quem é formado nas suas respetivas áreas.
Este texto é altamente inspirado por um senhor, Michael Shellenberger, especialista de política climática, e por um dos seus trabalhos. Fonte: https://static1.squarespace.com/static/56a45d683b0be33df885def6/t/5a15d3230d92971bbc50e35e/1511379805153/Slides+from+%2522Why+I+changed+my+mind+about+nuclear%2522+%E2%80%94+Shellenberger+TEDx+Berlin+talk.pdf
Está na hora de um maior investimento em Energia Nuclear em Portugal
Obrigado pela atenção.