Petição pedido de explicações sobre a demissão da critíca Mariângela Alves de Lima
Para: Jornal Estado de São Paulo
Mariângela Alves de Lima demitida do jornal O Estado de S. Paulo
A crítica de teatro Mariângela Alves de Lima foi sumariamente demitida do jornal O Estado de S. Paulo. Alguém simplesmente lhe telefonou na última sexta-feira e lhe comunicou a decisão. Ela trabalhou por mais de 40 anos na casa e, ao longo desse período, consolidou uma carreira simplesmente inigualável – em tempo e qualidade – dentro de um órgão de comunicação.
O episódio é injustificável, visto por qualquer ângulo. Do ponto de vista da empresa, evidencia o menosprezo e o desrespeito para com o trabalho de seus funcionários. Há pouco mais de um ano outro nome de destaque conheceu situação assemelhada, deixando claro a norma trabalhista sumária da centenária instituição.
Mariângela ocupa posição singular no panorama teatral brasileiro na segunda metade do século XX, e também neste. Pautada por rigorosa formação estética e histórica, sempre conferiu a seus comentários a mais límpida expressão de uma recepção atenta, inteligente e iluminada sobre os rumos artísticos do país. Cumpriu, com zelo e atenção, sua função de testemunha participante nos rumos tomados pelo teatro nacional, dando-lhe não apenas destaque artístico como, em muitos casos, o sentido e a significação que ele não sabia ter alcançado. O teatro e a arte em geral necessitam serem pensados – e não apenas comercializados - como supõem as mentalidades que apenas enxergam o mundo através das grades financeiras.
Pode-se compreender que uma empresa queira fazer ajustes em seu quadro funcional, mas deve, em todos os casos, observar normas trabalhistas e éticas mínimas, uma vez que sua função social ultrapassa a mera prestação de serviços. Uma opinião estampada nessa mídia cria diálogo social, influi sobre decisões, ajuda a formar mentalidades, expõe ao debate público ângulos analíticos e vozes submersas que, de outro modo, permaneceriam invisíveis e inaudíveis. E o teatro brasileiro reclama uma voz atuante como a de Mariângela, singular e parcimoniosa, exigente e atenta, para crescer e se desenvolver.
Nós abaixo assinados, leitores assíduos de Mariângela Aves de Lima ao longo de sua brilhante carreira, acreditamos que o jornal O Estado de S. Paulo, especialmente a editoria do Caderno 2, deve prestar esclarecimentos sobre a decisão autoritária e desrespeitosa não apenas com a crítica, mas com os artistas e os pesquisadores do teatro brasileiro.