Petição pela Não Supressão da Carreira 7 da Carris
Para: Ex. Senhor Presidente da Carris
Vimos por este meio expor o nosso desagrado e repúdio pela supressão da carreira 7, cujo percurso poucas alterações sofreu desde o seu lançamento, há seis décadas, em 1951.
Antes de mais, gostaríamos de sublinhar a inexplicável e lamentável atitude que a Carris tem assumido nos últimos meses sempre que suprime serviços: só oficializa o seu fim com poucos dias de antecedência. Não existem justificações sérias para que, neste caso concreto, se saiba previamente por rumores que o 7 ou outras carreiras vão deixar de circular.
De facto, já assim foi em Junho de 2010, por altura da introdução da 3.ª fase da Rede 7, e há cerca de três semanas, quando o 1 foi descontinuado. Agora, o procedimento volta a repetir-se. Estranhamente, se em Junho se antecipavam as férias de Verão, agora estamos à porta do Carnaval. Será este um pretexto para a Carris introduzir subtilmente estas desastrosas alterações, sem que muitos as conheçam?
No que diz respeito ao 7, é irónico que a Carris justifique a sua supressão pela existência de uma alternativa mais rápida entre o Campo Grande e Odivelas, através da ligação do Metropolitano de Lisboa (ML). Curiosamente, este empreendimento já existe há quase sete anos. Ainda assim, nem todos os comboios do ML se destinam a Odivelas. Será que se manteve ao acaso o 7 a circular em 2004? Paralelamente, as alternativas internas que a Carris agora disponibiliza já existiam todas por então. Para além do serviço do 36, a norte da Avenida do Brasil, circulava também já o 35, a sul desta artéria. Genericamente, para além do próprio 67, existia ainda o 33, já extinto. Ambos cobriam o eixo da Avenida de Roma e do Campo Grande. Será que o 7 se tornou numa carreira dispensável sem se alterarem as circunstâncias?
Por outro lado, o Lumiar perdeu desde então inúmeras alternativas de percurso. Com efeito, em 2004, cinco das sete carreiras que atingiam a paragem do Hospital Pulido Valente destinavam-se a sul do Campo Grande. Apesar de os percursos do 1, do 36, do 47 e do 108 serem parcialmente comuns, estas quatro carreiras alcançavam a zona do Campo Pequeno. Por outro lado, o 7 sempre se manteve como um alternativa fiável ao ML, no eixo da Almirante Reis. Agora, para nos deslocarmos ao Campo Pequeno temos apenas o 36. Apesar de o actual 701 ter aberto percursos para Sete Rios e para Campo de Ourique, o 47, e em especial o 108, foram discutivelmente encurtados ao Campo Grande. Agora, o Lumiar fica sem o 7. Sem ele, só dois autocarros passam a cruzar a fronteira psicológica do Campo Grande. Pior ainda é ao fim-de-semana, em que passa a existir apenas um, o 36. Será que a oferta de transportes na zona melhorou desde 2004?
Se o Lumiar perde uma importante ligação ao eixo da Almirante Reis, a Praça do Chile não fica melhor. Com efeito, se até há um ano efectuavam terminal neste local o 7, o 10, o 16 e o 17, agora passam apenas a alcançar esta zona da cidade o 10, cuja vida já não deverá prolongar-se muito, e o actual 717. Trata-se de uma redução de 50%. Um pouco mais acima, na Alameda, até há cerca de um ano, cruzavam a paragem da Avenida Guerra Junqueiro o 7, o 16, o 718 e o 720. A partir de dia 5 de Março, só se vai manter o 720. Neste caso, a redução ainda é maior: chega aos 75%. Nesta nevrálgica zona da cidade, subavaliada pela Carris, não existe agora complementaridade entre carreiras: quem vem do 716 de Benfica não consegue alcançar o percurso do 718 sem efectuar mais de dois transbordos. Será que faz sentido a decapitação desta zona e a perda de mais uma ligação?
Apesar de se constatar uma quebra de procura a meio do dia no 7, como sucede em grande parte ou mesmo em todas as carreiras, à hora de ponta o 7 nunca falha. Consegue sempre manter o seu intervalo entre chapas de sensivelmente 15 minutos e nunca circula propriamente deserto. Será que os responsáveis por esta decisão alguma vez circularam no 7? Ou estarão confortavelmente instalados nos seus gabinetes a planear o que não conhecem?
De resto, convém ainda salientar que o 7 circula até ao Cais do Sodré ao início da manhã. Sem a sua existência, que carreira irá assegurar este percurso, num horário em que o ML ainda não abriu? De igual forma, será que a única carreira que cruza parcialmente o eixo da Almirante Reis e do Rossio, o 708, é suficiente, mesmo durante o dia, para cobrir a procura de passageiros numa zona tão importante? A existência da linha verde do ML não implica por si só que a Carris não apresente uma alternativa coerente à superfície. Aliás, o percurso entre Entre Campos e os Restauradores também é servido pelo ML e tem quatro carreiras, o 36, o 44, o 732 e o 745, a complementá-lo. Curiosamente, a procura não se pode dizer fraca, razão pela qual duas dessas carreiras são asseguradas inclusivamente por articulados de última geração. E muitas vezes estes quatro autocarros circulam colados uns aos outros, à excepção do 732, cujo percurso é ligeiramente distinto. Será que o fim do 7 não poderia ser evitado com a sua extensão ao Cais do Sodré, tal como sucede de manhã?
Depois, ainda temos o argumento da certificação e da Rede 7. Escreve a Carris que “cerca de 70% do número total de carreiras da rede são certificadas” e que “se encontram em curso os trabalhos necessários para a certificação de mais sete carreiras, a alcançar no final do 1.º semestre do corrente ano”. De que serve a certificação? Então o 7 não era certificado? É através da supressão de várias carreiras já certificadas que a Carris ainda vem anunciar como facto positivo a certificação? Na verdade, a certificação não passa de uma manobra ridícula, tal como a Rede 7. Dois dos autocarros que vão terminar, o 752 e o 780, já se encontravam afectos à Rede 7. O primeiro tem inclusivamente apenas 18 meses de vida. E fazia crer a Carris que os veículos pertencentes à Rede 7 se encontravam isentos de “perigo” de suspensão?
A tudo isto, devo ainda acrescentar que se os tempos não são fáceis para a Carris, também não o são para os habitantes das zonas urbanas. O incremento do transporte público não advém de cortes cegos nas mais diversas carreiras. O incremento do transporte público não se faz à custa de mais transbordos, que agravam os tempos de percurso, tal como sucede na zona da Praça do Chile ou na da Alameda, entre outras. O incremento do transporte público não se faz à custa do desrespeito pelos passageiros, muitos deles idosos, que perdem uma importante ligação no eixo da Avenida de Roma com o fim do 7. O incremento do transporte público faz-se sim com a criação de uma autoridade supra-empresarial, idónea e isenta, que cumpra o serviço público e aposte na mobilidade e na complementaridade entre os mais diversos meios de transporte, sem eliminar as sobreposições necessárias.