Petição pela gravação das músicas do S. Martinho de Maçores
Para: Junta da Freguesia de Maçores; Camara Municipal de Torre de Moncorvo, Ministério da Cultura, Primeiro - Ministro, Presidente da Republica
1. Sou natural de Maçores, concelho de Torre de Moncorvo, Distrito de Bragança.
2. Como descendente da nossa Freguesia, dedico-lhe todo o meu maior contributo e dedicação
3. Orgulho-me naturalmente de aí pertencer e de as minhas origens serem provenientes de Maçores.
4. Aldeia que ostenta a mais hospitaleira tradição, a qual tem sido mantida, desde já os tempos dos nossos avós.
5. Refiro-me pois, ao S. Martinho.
6. Nesse tempo, certamente que os festejos do S. Martinho, não haveriam de ser muito diferentes dos actuais.
7. Estou convicto, de que não era dispensada a presença quer do gaiteiro e da caldeira, muito menos das cerimónias litúrgicas prestadas ao Padroeiro.
8. Com o passar do tempo, constata-se que nestes pretéritos anos, tem havido uma forma diferente de cantar aquelas músicas que os nossos antepassados, tanto se esmeraram em nos as transmitir.
9. Este facto, pode dever-se fundamentalmente à forma de como é dada a conhecer a música aos gaiteiros, acabando ou originando por assim dizer, que eles improvisem a música, de forma bem diferente da real.
10. Assim, é de todo o interesse que as nossas raízes se mantenham fieis a si mesmo, da mesma forma que os nossos ancestrais o fizeram.
11. Ainda não nos é possível debruçar em nenhum registo fonográfico, que vincule os cânticos do S. Martinho.
12. Importa pois, alertar as entidades, de que a nossa aldeia possuiu temas musicais, entoados pela população de Maçores e que, constituem um património cultural de interesse elevado e de preservação obrigatória, portanto dessa mesma música.
13. Salvaguardaríamos portanto, quer a letra, a música, o timbre e o compasso, factores musicais que são e, que à excepção da primeira enunciada, estão a perder-se no tempo.
14. E da incumbência das presentes Entidades Estatais a preservação do património cultural, considerando como o supra exposto, que os temas musicais entoados nas festas em honra de S. Martinho, assim o devam ser referenciados, julgando ser de todo o interesse, que se procure efectivar o registo fonográfico, através da gravação desses temas, em formato próprio, melhor sendo em CD´s.
15. Com a existência deste produto, deste bem, poderíamos chegar junto dos naturais e descendentes de Maçores, que ao ouvir os temas gravados em qualquer parte do Mundo, acabariam por ficar, mais enraizados e cientes das matérias culturais que são oriundas das suas origens. Ganharíamos bastante em perpetuar o que é nosso.
16. Em virtude de os factos apresentados constituírem-se de elevada importância e interesse na sua preservação, venho solicitar às respectivas Entidades, que me seja garantido todo o apoio para a execução do projecto que apenso, cujo estabelece a gravação de 500 (quinhentos) CD´s, contendo os temas musicais que são entoados por ocasião das tradicionais festas em honra de S. Martinho, em Maçores.
Plano de Projecto
Considerações:
a) Maçores é uma freguesia do concelho de Torre de Moncorvo
b) Possuiu valores, entre outros, os culturais.
c) Manifesta anualmente, as tradicionais festas em honra de S. Martinho.
d) Nestes festejos, figuram a célebre caldeira e o vinho, o gaiteiro, o coro de homens, que cantam as músicas ou temas locais, sem esquecer as cerimónias religiosas em redor do padroeiro.
e) É perfeitamente notória, a alteração da forma de como as músicas em causa, sofreram alterações, nos últimos anos.
f) Revela-se importante gravar essas músicas em CD´s, dado constituírem património local e de interesse colectivo.
g) Julga-se suficiente a gravação de 500 (quinhentos) CD´s
h) Destino dos CD´s: venda e oferta em representação da Freguesia
i) É obrigação do Estado, a promoção e preservação da nossa Cultura
j) Todo o apoio é necessário.
CANCIONEIRO
Era o Vinho
I
Era o vinho, meu Deus era o vinho
era a coisa que eu mais adorava
(bis)
Só por morte meu Deus só por morte
Só por morte o vinho deixava
(bis)
II
Ai eu hei-de morrer numa adega
Ai que o tonel seja o caixão
(bis)
O vinho seja a mortalha
Hei-de morrer com um copo na mão
(bis)
III
Ai minha sogra morreu ontem
Ai o diabo vá com ela
(bis)
Ai deixou-me as chaves da adega
Mas o vinho, bebeu-o ela.
(bis)
CANCIONEIRO
Manuel Duarte
I
Ai adeus ó Manuel Duarte
Ai amigo e companheiro
(bis)
Ai "alevanta-te" e vem comigo
Ai lá p´ró Rio de Janeiro
(bis)
Refrão
Manuel Duarte, foi p´ró Brasil
Chegou ao Porto e tornou a vir
Manuel Duarte, não embarcou
Foi o ingaije que o ingaijou
II
Ai adeus Manuel Duarte
Ai amigo e camarada
(bis)
Ai "alevanta-te" e vem comigo
vamos os dois seguir esta jornada
(bis)
Refrão
III
Ai cinco folhas tem o vime
Ai cinco amores tenho eu
(bis)
Ai quem gosta de mim são elas
Ai quem gosta delas, sou eu
(bis)
Refrão
CANCIONEIRO
Ó Aida, ó minha filha!
I
Ó Aida, tu já namoras
Teu pai não vai gostar,
Bis
Ainda és muito novinha
És muito pequenina
Pra poder casar
Bis
II
Ó Aida, ó minha filha
Tu não odes namorar
Bis
Ainda és muito novinha
És muito pequenina
Pra poder casar
Bis
Nota: saliente-se que este tema já pouco se conhece dele, embora creia que depois de uma consulta aos mais antigos da aldeia, ainda se consiga recuperar.
S. MARTINHO – A TRADIÇÃO E DEFINIÇÕES
- O GAITEIRO –
O gaiteiro, é uma pessoa que toca gaita-de-foles. Então, na manhã do dia 11 de Novembro, está à entrada da aldeia, um grupo de homens que aguarda a sua chegada e a anuncia com fogo de artifício, afim de transmitir à restante população.
Após a recepção e familiarizado o gaiteiro, vão-lhe ser ensinadas as cantigas da aldeia. Caso o gaiteiro já cá estivesse em anos anteriores, pois esta lição, nada mais é mais do que uma recapitulação, onde numa simples volta a recordará. Mas o pior, é quando o gaiteiro é novo, que nunca ouviu as músicas da terra. Este mais esforço e empenho requer para aprender. Então os homens presentes, cantam as cantigas do S. Martinho para afinar e levar ao compasso desejado o artista.
-O CORO –
O coro, assim por mim designado, é um grupo de homens, espontâneo, não constituído anteriormente, normalmente homens de Maçores, que sabem, as musicas da festa e que ao som da gaita de foles, entoam os hinos locais, em vozes graves, em compasso lento, arrastado e em muitas vezes, descoordenado.
O coro, acompanha quase sempre o gaiteiro, sendo excepção a procissão, e a caldeira pelas ruas da freguesia. Neste coro, não existe um mínimo nem máximo de elementos, participando nele, todos quantos queiram acompanhar a caldeira e o gaiteiro.
-A CALDEIRA-
A caldeira é um recipiente metálico, de forma cilíndrica estanque e construído de material zincado. Tem uma asa ou alça metálica, fixa e arredondada. É usada frequentemente, nos meios rurais com o objectivo de cozer os alimentos (nabiças, nabos, batatas,) para o gado muar e asinino.
Em Maçores, a caldeira vai ser um objecto fundamental nas festas de S. Martinho, porque nela é que irá ser depositado esse liquido que neste dia se prova, como diz o velho ditado: " No dia de S. Martinho, vai à adega e prova o vinho."
- O ENCHER E O BEBER DA CALDEIRA-
Como já se referiu, a caldeira vai ser o contentor do vinho. Então, dois homens, com a ajuda de um pau ou vara, segurando cada um nas extremidades, vão colocar a vara de madeira, pelo interior da alça e transporta-la pelas artérias da aldeia, enquanto que seguem á sua retaguarda, o coro de homens e o gaiteiro.
Pronta então esta formação, dá-se início ao enchimento da caldeira. Assim, este grupo, desloca-se pela aldeia fora, com a finalidade de encher a caldeira nas adegas dos produtores de vinho locais, que pouco a pouco, a vão atestando. Sempre nestas deslocações, a caldeira é acompanhada pelo coro e pelo gaiteiro.
Engraçada é, a forma de como se deve beber, segundo a tradição, pela caldeira. Então, a caldeira é colocada no solo. O que nela for beber, terá de colocar os joelhos no chão e inclinar-se sobre ela, introduzindo no interior do aro superior a cabeça e no cimo do vinho os lábios e pelo método da sucção, aspira o liquido. Desta forma, e como se diz por cá, "beba, que não beba, mergulhar, vai ter que mergulhar".Quer isto dizer, que pelo menos, tem que por os lábios no vinho.
- O MAGUSTO-
O magusto realiza-se depois da eucaristia e da procissão. As pessoas que querem participar, reúnem-se, normalmente no Lugar da Eiras, por ser um espaço tranquilo, óptimo para este tipo de convívio. Então são trazidas as castanhas e a palha que servirá para as assar. Esta última é espalhada no chão e as castanhas espalhadas sobre a palha. Incendeia-se e começa-se o assar das castanhas.
Logo que as primeiras castanhas estejam assadas, os participantes, aproximam-se da extinta fogueira e retiram-nas, consumindo-as em livre associação e feliz convívio entre todos até que se acabem as castanhas, fazendo, portanto, mais fogueiras. Durante o magusto, está presente a caldeira e o gaiteiro. A caldeira, desta vez, está colocada no chão, disponível para qualquer pessoa que queira beber. O gaiteiro, toca as musicas que conhece, tendo que, mais frequentemente, tocar as músicas do S. Martinho, acompanhadas pelos homens que formam o coro.
Assim que haja cinzas resultantes da queima da palha, as pessoas, sujam propositadamente as mãos, de modo a ficarem negras, para depois, as irem a esfregar nas caras das pessoas que estão presentes. Ora, com isto, levamos a um convívio, onde todas as pessoas estão de igual, com as caras sujas do carvão, levando-as a designar por já terem a cara "enfarruscada" ou "enfurretada".
Por fim e para aquelas pessoas que não puderam estar presentes no magusto, assam-se castanhas, que depois são introduzidas em sacos e os homens transportam-os ao ombro, pelas ruas de Maçores e que vão distribuindo e dividindo pelas pessoas que se abeirarem. Recordo, mesmo nesta distribuição, a caldeira e o gaiteiro estão presentes, podendo desta maneira, as pessoas que não fossem ao magusto, ver a caldeira e ouvir as nossas melodias ao som da gaita de foles e do coro masculino.
in: www.macores.pt.vu - (Fórum Oficial da Aldeia de Maçores, autor; o presente redactor)
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