Criação e atribuição de carácter obrigatório da disciplina de Primeiros Socorros no currículo do Ensino Básico
Para: Exmo. Senhor Presidente da Assembleia da República
Pela criação e atribuição de carácter obrigatório da disciplina de Primeiros Socorros no currículo do Ensino Básico
Exmo. Senhor Presidente da Assembleia da República
No último ano assistimos a um aumento assustador de 73% na deteção e encaminhamento de casos de enfarte agudo do miocárdio por parte do Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM). Conforme se verificou este aumento, também se constatou que tem incidido e afetado com frequência camadas da população cada vez mais jovens.
Felizmente, temos verificado uma melhoria constante na deteção e na prontidão do socorro. No entanto, por mais que os sistemas de deteção atuem com rapidez, não conseguirão reverter e devolver qualidade de vida a grande parte das vitimas de uma paragem cardiorrespiratória.
Deixar uma pessoa sem reanimação cardiorrespiratória, irá privar o seu cérebro de oxigénio. A partir do terceiro minuto de privação, começam a surgir complicações, que com o passar do tempo deixarão a pessoa com sequelas que muito graves ou mesmo irreversíveis. A partir de 10 minutos sem oxigenação, o risco de morte cerebral é muito alto. Mesmo que uma pessoa seja ressuscitada, oito em cada 10 entrarão em coma e sofrerão algum nível de dano cerebral.
O valor de qualquer vida humana é muito mais importante que qualquer valor monetário, mas o custo das doenças relacionadas com o coração, ao país, é de aproximadamente dois mil milhões de euros por ano (58% e 42% correspondendo a custos diretos e indiretos, respetivamente). A maior parte dos custos diretos está associada aos cuidados de saúde primários (55%), seguindo-se o ambulatório hospitalar (27%) e, por último, os episódios de internamento (18%). Também há custos indiretos, principalmente determinados pela impossibilidade da participação das vitimas no mercado de trabalho.
Outra situação frequente no nosso espaço escolar são as obstruções de via aérea. Nas crianças e jovens, os engasgamentos e outros tipos de obstrução revelam-se frequentes e ocorrem muitas vezes durante a alimentação ou quando as crianças estão a brincar com objetos de pequenas dimensões. Assim que presenciada uma situação deste género, a atuação deve ser imediata. Por vezes são situações que passam despercebidas aos adultos, e se outra criança, mesmo que não consiga atuar, mas que com conhecimento adquirido alerte um adulto, está já a fazer um trabalho determinante.
Para reforçar esta argumentação, para além dos alunos, os próprios professores e restantes elementos da comunidade escolar, terão a possibilidade de receber orientações e saber como atuar em caso de outros acidentes, como por exemplo, a abordagem a quedas, hemorragias, fraturas, intoxicações, crises de convulsão, entre outros possíveis.
Além da possibilidade real e efetiva qualquer cidadão poder salvar vidas, e fazê-lo com a possibilidade de que a vítima recupere com a totalidade das suas capacidades físicas e cognitivas intactas, a ajuda ao próximo é uma das maiores formas de cidadania e de humanidade.
Esta é a razão de fazer o apelo para a criação desta disciplina, e dotar toda a população de conhecimentos que lhe permita realizar adequadamente os primeiros socorros, já que estes são imprescindíveis para que o paciente aguarde da melhor forma possível, e no limite, possa ser reanimado e sobreviva até a chegada de ajuda diferenciada.
Francisco José Rosa da Silva
Cartão de Cidadão: 12000729
Rua Sebastião Cruz Lopes n.33 4ºDT
3220-202 Miranda do Corvo
Professor de Educação Física
Bombeiro Voluntário em Vila Nova de Poiares
Vítima de enfarte do miocárdio com paragem respiratória em 5 de setembro de 2022.
Socorrido imediatamente por elementos da sociedade civil, que realizaram manobras cardiorrespiratórias durante perto de 30 minutos até à chegada de Bombeiros e VMER.
Internado e acompanhado na Cardiologia dos CHUC e com realização de recuperação ativa na Reabilitação Cardíaca dos CHUC
