Pela edificação de um busto, na Vila de Água de Pau, em homenagem ao Pe.João Botelho Mota
Para: Junta de Freguesia de Água de Pau, Câmara Municipal de Lagoa.
SOU TEIMOSO?
Sim: possivelmente sou. Mas continuo a achar, embora a placa que já lá existe, a homenagear um reverendo pelos seus feitos, que João Botelho Mota era homem, e foi padre, reverendo, para mais: não que me «perca» na noção, nada florida, dos bustos. Não. Nem pela sua avareza, nem pela sua vaidade. Nada disso. Apenas pela valência da sua justiça histórica.
Vamos aos factos. Facto número um: não, não conheci João Botelho Mota. Facto número dois: sim, estudei o Padre João Botelho Mota, reverendo que serviu na Vila de Água de Pau, através do cruzamento de diversas fontes, sobretudo orais e bibliográficas.
Facto número três: não me parece, dispondo todos os dados sobre a mesmo, que os possamos apresentar doutra forma senão desta:
1. no século XX não houve padre, reverendo, em A. Pau que servisse aquela Vila melhor que dois: Padre João Moniz de Melo e Padre João Botelho Mota. O Padre João Moniz de Melo, natural dos Arrifes, fê-lo, e muito bem. Mas era anterior ao Pe. Mota. E, daí, de uma época paupérrima em recursos. Já o saudoso Pe. Mota pôde orquestrar mais: e, daí, o que fez, segundo percebi, e estudei, foi uma amplíssima obra de caráter quer material quer imaterial.
2. o Pe. Mota era conservador e rígido. E isso gera antipatias e ecos. Era uma pessoa que, segundo sei, viveu modestamente numa casa pequena, também ela modesta, na antiga Rua da Espiga, depois, Rua Padre João Botelho Mota, que se junta à Arrochela, perto da Travessa com o mesmo nome, do lado poente da Vila de Água de Pau.
3. foi, pois, um Homem e Padre que, desde muito jovem assumiu com paixão a formação espiritual rígida, e conservadora, dos seus paroquianos e, nem a doença lhe retirou a chama e o brilho na missão que, com humildade e firmeza, abraçou ao longo de toda a sua vida - levar a Fé em Deus às pessoas.
4. foi um orador sacro de grande mérito, correndo todos os púlpitos da ilha de São Miguel e alguns da diáspora, mobilizando e empolgando as assembleias, num estilo simples, carinhoso e cheio de entusiasmo.
5. tinha uma grande paixão pela música o que o levou a manter grupos corais de elevado nível. Em Água de Pau, particularmente, para além de remodelar o templo de Nossa Senhora dos Anjos, abrilhantou, como ninguém tinha feito, as festas da padroeira Nossa Senhora dos Anjos, construiu o salão paroquial, tendo sido, à altura, constituída uma comissão para o efeito; apoiou e dinamizou todas as iniciativas que pudessem engrandecer a sua Vila. Foi um padre que ficou na retina de todos quantos com ele se cruzaram nas ruelas, canadas, travessas, ruas e "avenidas" de Água de Pau, do cimo à Caloura.
6. se a alguém devemos as Grandes Festas da Vila de Água de Pau em Honra de Nossa Senhora dos Anjos, devemos ao Pe. João Botelho Mota que as abrilhantou como nunca ninguém antes as havia abrilhantado.
Daí ter promovido, no passado, uma petição, gozada e escarniada por pauenses e afins, em prol da edificação de um Busto, em A. Pau, em justa memória do saudoso Padre João Botelho Mota.
É, mais do que uma questão de honra, uma questão de valorização dos nossos pares, e de justiça.
Sei que, ao Reverendo falecido, não sou ninguém; nem familiar; nem nada. Sou apenas um cidadão. Nem de Água de Pau nascido, nem residente. Mas, comummente, atento e observador ao que se passa, e vai passando, à minha volta, independentemente das cercas e dos bairros, psicológicos, que se criam.
Por todas estas razões, e mais algumas, renovo esta petição, na esperança de que melhores dias virão.
Júlio Tavares Oliveira
