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Pela edificação e colocação de um memorial em homenagem ao Capitão do Donatário de São Miguel Rui Gonçalves da Câmara

Para: Câmara Municipal de Lagoa - Açores

Considerando os 500 anos, em Outubro de 2022, do grande terramoto de 1522, exponho o seguinte:

Há muitos anos, numa conversa informal que mantive com um antigo vereador da Câmara da Lagoa, tomei conhecimento de um personagem muito ancestral da nossa história - do Capitão do Donatário Rui Gonçalves da Câmara -, que lhe havia sido falado pelo Professor, e Historiador, Luciano da Mota Vieira. Luciano da Mota Vieira era, segundo esse autarca, até apologista de como a Lagoa, e São Miguel, lhe deviam uma grande homenagem, mais que não fosse uma praça, rua, placa com o seu nome.
Rui Gonçalves da Câmara (n. 1490 - Ponta Delgada, 22 de Outubro de 1555), membro da família Gonçalves da Câmara, era filho de João Rodrigues da Câmara, tendo-lhe sucedido como 5º Capitão do donatário da ilha de São Miguel - o terceiro da família a exercer o cargo. Foi, em Lisboa, junto da Corte, onde estudou e onde o seu pai mantinha importantes ligações, surpreendido pela morte do mesmo progenitor, com apenas doze anos de idade. Por ser menor ainda, o governo da Capitania foi então assumido, interinamente (até 1504), por Pedro Rodrigues da Câmara, tio. Assumiu em 1504 a capitania de São Miguel, mas, pouco tempo depois disso, a sua mãe e irmãos desaparecem no mar durante uma viagem para Lisboa (o navio perdeu-se sem deixar rasto).
Sobre alguns desses acontecimentos, escreveu Gaspar Frutuoso, no seu livro IV do Saudades da Terra: «No tempo do falecimento do quarto Capitão João Roiz da Câmara, estava na Corte seu filho mais velho, Rui Gonçalves da Câmara, que Ihe sucedeu na capitania e foi quinto Capitão desta ilha de São Miguel, segundo do nome. E por ficar de pouca idade, governou por ele seu tio, Pero Roiz da Câmara, até o ano de mil e quinhentos e quatro»
Em 1510, cerca disso, por conflitos [«Mas como a não há neste mundo não faltaram invejosos ou agravados dele, que o inquietassem, porque o contador Martim Vaz Bulhão, com que teve dúvidas, e um Frei Bartolameu , então ouvidor do Eclesiástico nesta terra, João d’Outeiro, cavaleiro do hábito de Cristo, sogro de D. Gilianes da Costa, Simão de Santarém, freire do hábito de Aviz, escrivão na mesma vila, Luiseanes, cavaleiro do hábito de Santiago, genro de Gonçalo Vaz, o Velho, Francisco da Cunha, fidalgo, marido de D. Beatriz, filha natural do Capitão Rui Gonçalves da Câmara, primeiro do nome, todos moradores em Vila Franca, e João Fernandes Examinado, pai de João Álvares Examinado, da Alagoa, por diferenças de uma demanda que teve com ele, e outros que se ajuntaram na mesma consulta, fizeram a el-Rei capítulos dele. Uns dizem que por causa dumas escrituras que desapareceram, outros que por causa de mulheres, outros que por recolher homiziados em sua casa» - LIVRO IV, Saudades da Terra, de Gaspar Frutuoso.], foi destituído de Capitão do Donatário («E nos sete anos que esteve absente, seu tio, Pero Roiz da Câmara, governou a capitania por ele»), ficando em grave situação financeira. Tão importunado se viu el-Rei que o mandou ir emprazado à Corte, pelo que foi forçado ir-se desta ilha, da qual levou consigo muitos homens, fidalgos, nobres e honrados, dos principais da terra, seus amigos que, às suas próprias custas de cada um, o quiseram acompanhar naquela trabalhosa jornada. Mas viria a ser reconduzido em 1517, regressando a São Miguel.
A 22 de Outubro de 1522 um forte terramoto destruiu boa parte das povoações da ilha. Vila Franca do Campo, a então capital da Ilha, foi soterrada, nela perecendo o filho primogénito e a maior parte da família do Capitão. Por estar então na Lagoa, o Capitão, a esposa e um seu filho sobreviveram. Ao terramoto, seguiu-se a peste, causando devastação geral na ilha.
O Capitão, com graves problemas financeiros e desgostos pessoais, faleceu em Ponta Delgada a 22 de Outubro de 1555.
Procurou este Capitão, em seu tempo, «dar lustro a esta ilha, atraindo a si muitos homens honrados, fazendo-lhe todas as honras e favores possíveis» (Frutuoso).
«Alguns dizem que ele mandou vir a semente de pastel, de Tolosa, de França, e muitas aves e árvores diversas». «E assim mandou fazer o mais rico pomar de toda a ilha, na sua quinta do Cavouquo [Cabouco] onde tinha uma fonte de água, além de muitas árvores de espinho de toda a sorte que nele havia; não faltavam grandes castanheiros e nogueiras que davam muitas nozes e castanhas, pereiros e pereiras, de que se colhiam em seu tempo infinidade de peros e outras frutas, e esquisitas árvores que com muita curiosidade mandava vir de remotas terras. Fez também, na vila de Alagoa, uns fortes e ricos paços de grão casaria, com compridos esteios de cerne por dentro das paredes, até o sobrado, para assim ficarem mais seguros contra os contínuos terramotos que nesta terra então havia; os quais paços, ainda que estão quase arruinados, mostram a magnificência e grandeza de quem os mandou fazer. Depois os fez consertar o conde D. Rui Gonçalves da Câmara, seu neto. Fez também a quinta do Cavouquo [Cabouco] que, por honra de seu autor, deveram de acrescentar e conservar seus ilustres sucessores, já que pelo proveito e refresco, que destas coisas colheriam, o não fazem. Mas a causa disto é por nesta ilha, que é sua morada, serem hóspedes e lá no Reino terem seu principal assento, de que fazem mais cabedal. Mandou também fazer um formoso galeão e bem artilhado, com que se servia das coisas do Reino e de outras partes, quando Ihe era necessário. Mandou este Capitão em seu tempo fazer muitas atafonas na vila da Ponta Delgada, junto do mosteiro de S. Francisco e abaixo da igreja paroquial de S. Pedro, por aliviar a opressão que o povo padecia em mandar fazer as farinhas aos moinhos da vila da Ribeira Grande, que estavam longe. Mandou trazer de Portugal codornizes e coelhos, que multiplicaram muito. Também mandou trazer perdizes, que se perderam» (Gaspar Frutuoso, do Livro IV, do Saudades da Terra).
Foi sepultado na capela-mor do mosteiro de S. Francisco. Nomearam por herdeiro o seu único filho Manuel da Câmara e o mesmo e seus descendentes deixaram também por testamenteiros. Mandou dar largas esmolas a pobres envergonhados e vestir logo doze, e dizer muitas missas, anais, capelas e trintairos, e algumas cantadas, em cada um ano para sempre, «e que do remanescente de sua terça o seu testamenteiro tirasse cada um ano dois cativos de terra de mouros, os mais desamparados e sem remédio que achasse» (Frutuoso, Livro IV, Saudades da Terra).
A Capitoa D. Filipa foi sempre muito virtuosa e de muitas esmolas, e discreta em saber repartir. Afeiçoada a pessoas virtuosas e religiosas, folgava de falar com pessoas discretas, pela qual razão falava com poucas mulheres; era de grande autoridade na pessoa e na fala, muito caridosa com os enfermos de sua casa e de fora, de tal modo, que pelo mais pequeno negrinho de sua família, gastara liberalmente toda sua fazenda para lhe dar toda a saúde; dava menzinhas aos doentes. Não queria ouvir dizer mal de ninguém. Se no povo, ou entre oficiais de justiça, ou religiosos, havia discórdias, procurava pôr a paz. Tinha cada dia, antes de comer, a sua oração secreta diante de um retábulo onde estava um crucifixo, em que chorava muitas lágrimas. Todos os dias ouvia missa que mandava dizer em sua casa e sempre teve capelão até que faleceu. Quando era casada, mandava fazer muitos vestidos afim de os dar por amor de Deus, o que fazia secretamente. Fez de sua terça a maior parte do mosteiro da Esperança, na vila da Ponta Delgada, em que recolheu as freiras de Vale de Cabaços, da vila de Água do Pau, isto numa terra que Fernão do Quintal e sua mulher deram para se fazer o dito mosteiro; e depois fez numas casas encostadas a ele, em que morou viúva muitos anos, e por sua morte Ihas deixou, diz Gaspar Frutuoso.
Depois do mosteiro acabado, fez tresladar os ossos de seu marido para a capela dele. Recebeu os sacramentos necessários antes de seu falecimento com dizer muitas palavras devotas e discretas, que em sua enfermidade sempre teve; faleceu de idade mais de oitenta anos, dia de Janeiro de madrugada, «acabando o ano de mil e quinhentos e cinquenta e entrando o de cinquenta e um. Foi enterrado seu corpo, vestido no hábito de Santa Clara, na sepultura do Capitão seu marido, no mosteiro das Freiras da Esperança, onde mandam cantar dois anais. Mandou dizer muitas missas e trintairos, aprovando o que seu marido e ela mandaram em o testamento que ambos ordenaram» (Gaspar Frutuoso, LIVRO IV, Saudades da Terra).
Foi sentida sua morte de todo o povo e muito mais de muitos pobres que ela com suas esmolas sustentava.
Passo a citar, do Almanaque Açoriano, nomeadamente do Saudades da Terra, de Gaspar Frutuoso [LIVRO IV], o seguinte excerto:
«De um Jogo de Canas que o Capitão Rui Gonçalves da Câmara ordenou entre os moradores da Ilha de São Miguel para os animar e fazer esquecer do trauma do enorme terramoto de 1522, em Vila Franca do Campo que causou o terror na ilha de São Miguel O Capitão Rui Gonçalves da Câmara acudiu, nessa altura, nestes perigos e perdas, a consolar seu povo com sua presença, palavras, conselhos e fazenda, assim também, vendo os homens depois de passado aquele tempo do infortúnio tão debilitados e desmaiados, que quase todos se queriam ir para Portugal e deixar esta terra com o grande medo que conceberam do terribel castigo que sobre ela viram com seus olhos e de outros semelhantes que receavam, ordenou como prudentíssimo divertir no coração de seus súbditos semelhantes pensamentos com mandar fazer uma grande festa de jogo de canas na vila da Lagoa, onde tinha então seu principal assento, armando o desafio entre as duas vilas, da Ponta Delgada e da Lagoa, contra os da Ribeira Grande e Vila Franca e Água do Pau. Foi este jogo de canas ao longo do mar, em um campo que fica em baixo na praia, e a gente de toda a ilha, com o dito Capitão, estavam em cima, vendo este notável folgar em um dia de Páscoa».
Ora, foi este Capitão do Donatário que evitou, em 1522-23, que «quase todos» fugissem para Portugal, depois do grande terramoto em Vila Franca do Campo, no século XVI, em São Miguel. E foi, precisamente na VILA DA LAGOA, que esse Capitão do Donatário impediu esse infortúnio: com um «Jogo de Canas», para «animar e fazer esquecer o trauma» do terror do terrível terramoto, numa altura em que a emoção falava mais alto, e fugir era quase certo destino e prioridade para todos.
«Da Ponta Delgada veio André Gonçalves de Sampaio, chamado o Congro, com dois cavalos, em um ia e outro a destro, e uma azémala carregada de canas, com chocalhos de prata e seu reposteiro, e vestido de cores, de seda; e Jorge Nunes Botelho, também consertado, levando por companheiro seu genro Pero Pacheco, que ia vestido de seda vermelha, com muitos golpes e botões de ouro; e Diogo Nunes Botelho vestido de sede branca; e Amador da Costa com dois cavalos bem ajaezados, um castanho, em que ele ia, tão gordo, que correndo uma carreira, se Ihe fendeu a anca pelo meio e nunca mais foi são; Rui Martins Furtado também foi em um cavalo fouveiro, mui formoso, e levava vestido uma marlota de veludo verde com debruns brancos e botões de ouro; todos com seus moços de esporas, de ricas librés. O meirinho do corregedor, que era Gaspar Manuel, também ia em um cavalo mui formoso, vestido de roxo e azul. Da vila da Alagoa ia Álvaro Lopes de Vulcão e Cristóvão Soares e outros, todos bem ornados e lustrosos, onde o dito Álvaro Lopes de Vulcão, ainda que era homem de dias, jogou mui valentemente as canas, e João Álvares, seu filho, e Vasco de Medeiros, Fernão Vieira, João Cabral, Pero Velho e João Álvares Examinado, em bons cavalos, vestidos de libré de sedas. De Vila Franca foram em favor da Ribeira Grande e da Água do Pau alguns poucos, com vestidos honestos de preto e roxo porque traziam ainda muitos deles dó por seus parentes e amigos que morreram pouco havia na subversão da dita vila. Foi Lopo Anes de Araújo vestido de pano preto tosado, muito fino, com Matias Lopes, seu filho, vestido com um pelote de chamalote roxo, sem águas, e gibão de veludo preto, com três cavalos entre o pai e o filho. Foi João de Arruda com seu filho Pero da Costa vestidos de seda preta, e Pero da Costa com botões de ouro, e entre ambos três cavalos; foi António de Freitas de roxo, em um cavalo murzelo, mui formoso; e Hierónimo Gonçalves em outro cavalo pombo; Jorge da Mota e André da Ponte também em outros dois cavalos, vestidos de azul anilado, com gibões de veludo; e outros alguns. Da vila de Água do Pau foram Afonso de Oliveira e Estêvão de Oliveira, irmãos, com três cavalos, vestidos eles de cores e bem tratados, Gaspar Pires, o Velho, Gaspar Pires, o Moço, Amador Coelho, Manuel Afonso Pavão, o licenciado Diogo de Vasconcelos, Rui Vieira e outras pessoas; todos mui galantes e bem vestidos de panos finos e de seda e peças de ouro. Da Ribeira Grande, foi o Abade de Moreira, que ali estava naquele tempo; levava dois cavalos bem ajaezados, com que jogou mui bem as canas, porque era bom cavaleiro, e teve desafio com Manuel da Câmara, filho do Capitão, que então era moço, sobre o jogo das canas, por Ihe tirar o Abade uma cana e Ihe dar na adarga, e tudo causou sua mãe D. Filipa Coutinha; mas o Capitão Rui Gonçalves da Câmara atalhou a isso, dizendo ao Abade que Ihe atirasse outra cana, porque a Capitoa dizia que matassem ao Abade por atirar a seu filho e Ihe dar na adarga, dizendo que Ihe não havia de atirar, senão botar a cana por cima, como a el-Rei. O Abade vendo isto, como era homem muito valente e de grandes espritos, tomou um arremessão na mão, com sua adarga na outra, dizendo que o Abade não se matava sem ele primeiro matar cinco ou seis.» [Gaspar Frutuoso, Livro IV, Saudades da Terra].
O Jogo de Canas ou das Canas é um jogo que podia ser jogado de duas formas e cuja forma mais comum envolvia a repartição de terreiro em duas partes e, ao centro de cada era colocado um poste. Em cada lado, ficava uma quadrilha de cavaleiros, bem alinhados, de trajos vistosos e engalanados. Um cavaleiro de cada quadrilha partia, de cada vez, direito ao outro e, depois de terem ultrapassado os respetivos postes, podiam lançar a cana que transportavam, à laia de lança, procurando atingir-se reciprocamente. Rodavam depois à frente dos postes e voltavam, saindo imediatamente outros dois. Havia outra variante deste jogo, o jogo das alcanzias, também conhecido pelo jogo das laranjas. Os cavaleiros atiravam uns aos outros as alcanzias, bolas frágeis de barro seco, do tamanho de uma laranja, contendo no interior flores, cinza ou doces, tentando acertar no corpo do cavaleiro ou cavalo. Fonte: Azevedo, 2001, vol. I, p. 49. CO.
Pede-se, então, a construção de um Memorial, em sítio a definir, na Lagoa, com alusão a Rui Gonçalves da Câmara e ao “Jogo de Canas”, bem como ao grande terramoto de 1522, em São Miguel.

O primeiro subscritor,
Júlio Tavares Oliveira
  1. Actualização #1 Encerramento

    Criado em 29 de março de 2022

    Expirou




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Esta petição foi criada em 29 março 2022
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