Aeroporto de Alcochete + Eventual Aeroporto Sacadura Cabral no Montijo.
Para: Assembleia da República, Governo de Portugal e Presidência da República
Apesar desta iniciativa ter como objectivo principal dar o nome certo e justo ao eventual Aeroporto no Montijo, devemos em consciência alertar que a não localização da solução Portela + 1 no campo de tiro de Alcochete, constitui, na nossa perspectiva, um erro crasso e uma opção não inteligente.
De facto, não tendo a península do Montijo por onde crescer, dentro de escassos anos Portugal necessitará de um terceiro aeroporto na região de Lisboa, pelo que este investimento brutal terá sido em vão.
Assim sendo, o único argumento a favor desta solução, parece ser o interesse económico de lucro por parte da Vinci... Contrariando tal solução, múltiplos são os argumentos que se podem aduzir: ruídos das aeronaves por cima das populações, problema de segurança tal como temos actualmente na Portela, com o risco de uma eventual queda de aeronave em zonas urbanas, o desrespeito total da vida das aves do estuário do Tejo, o perigo constante de aves de médio e grande porte serem sugadas pelos motores das aeronaves provocando a queda das mesmas. E por fim o enorme constrangimento e custos derivados da recolocação dos meios aéreos da Força Aérea Portuguesa e da Marinha. Tendo presente tudo isto, avançar para a construção do aeroporto do Montijo à pressa, e como sempre “à portuguesa”, deixando tudo para a última hora, não abona em nada sobre a inteligência e bom senso de quem decide…
Sem prejuízo do exposto, no caso de vir a ser efectivamente tomada a decisão de avançar com a construção do Aeroporto do Montijo, situado na actual Base Aérea Nº 6 da Força Aérea Portuguesa, do ponto de vista histórico terá toda a lógica passar a chamar-se a este de Aeroporto Sacadura Cabral, pois aquando do tempo da Aviação Naval (1917-1952) que aqui operava, este era designado, a nível oficial, como o Centro de Aviação Naval Comandante Sacadura Cabral. De referir que o planeamento e a execução desta obra foi conduzida pela nossa Marinha desde os anos 30, tendo culminado na inauguração e baptismo deste Centro com o nome daquele intrépido aviador naval.
A este propósito, e numa perspectiva histórica, cumpre salientar que o Centro de Aviação Naval (CAN) de Lisboa, foi criado em 1917 como base para hidroaviões, tendo sido instalado na Doca do Bom Sucesso, em Belém, tornando-se assim a primeira base operacional da Aviação Marítima. Em 1952, o CAN foi transferido para as novas instalações no Montijo, as quais dispunham, para além de estruturas e de rampas para hidroaviões e aeronaves anfíbias, de uma pista terrestre, passando a chamar-se oficialmente de Centro de Aviação Naval Comandante Sacadura Cabral.
O aviador naval Artur de Sacadura Freire Cabral, na companhia do seu importante navegador e amigo Gago Coutinho, ambos oficiais da nossa Armada, terminaram com sucesso e pela primeira vez, a Travessia Aérea do Atlântico Sul, em 1922, voando 8.383 kms (os que separam Portugal do Brasil) num "frágil" hidroavião biplano Fairey IIID "Santa Cruz", com a matrícula n.º 17.
Sacadura Cabral acabou por perder infelizmente a vida aos comandos de um hidroavião monoplano Fokker T.III-W, algures no Mar do Norte em 1924, quando regressava a Portugal.
Curiosamente existe um estudo, datado de Novembro de 1919, no qual Sacadura Cabral propõe já a utilização polivalente do Montijo como aeroporto, base de hidroaviões e base aérea quando sugere a transferência do CAN de Lisboa da Doca do Bom Sucesso, em Belém, para o Montijo.
Por último cumpre referir que na Base Aérea Nº 6, encontra-se também sediada a Esquadrilha de Helicópteros da Marinha (EHM) que no ano de 2017, em 28 de Setembro, comemorou os 100 anos da criação da nossa gloriosa Aviação Naval.
Assim, e perante os factos históricos mencionados, seria de boa justiça e faria todo sentido atribuir ao eventual Aeroporto do Montijo, o seu nome inicial de Sacadura Cabral sendo que o mais correto seria mesmo construir, de modo faseado, um aeroporto de raiz no campo de tiro de Alcochete, numa perspectiva de futuro.
