Redução férias escolares
Para: Mães e Pais deste país
Excelentíssimo Senhor Presidente da República,
Sempre me questionei, enquanto estudante, qual a necessidade de ter tantas férias durante o ano lectivo. Era especialmente penoso o Verão, acompanhar enfadonhamente os meus pais para o local de trabalho, entretendo-me em tarefas pouco interessantes e perturbando os meus pais e colegas, que tentavam concentrar-se. Mais tarde, passei a ficar só em casa...e quanto a esta situação, julgo que nem é preciso especificar os perigos que acarreta, desde os riscos de segurança aos acidentes domésticos.
Hoje, mãe de uma criança de 3 anos e trabalhadora, vejo-me a braços, pela primeira vez com o calendário escolar de um colégio privado, pelo qual fui obrigada a optar, em virtude de não poder dar-me ao luxo de não ter o horário diário da criança ocupado até, pelo menos, às 18h30, sob pena de precisar de sair mais tarde e não ter quem vá busca-la.
Mas, sobretudo, observando o calendário escolar para o próximo ano de 2013/2014, reparo que terei de acompanhar a minha filha: 3 semanas em Dezembro; alguns dias no Carnaval; 2 semanas na Páscoa e 2 meses e meio no Verão com os meus 22 dias de férias.
Não vou conseguir, Senhor Presidente.
Os 22 dias apenas me permitem acompanhar a minha filha durante o mês de Agosto. Não consigo estica-los.
Venho, então, perguntar-lhe o que fazer?
Poderá responder-me: a mãe tira um mês e o pai o outro de férias.
Mas, Senhor Presidente, mesmo passando férias separada do meu marido, a bem da nossa filha (que está acima de qualquer sacrifício, nomeadamente o de passar as férias sem o meu marido) não conseguiremos "cobrir" todo o tempo de férias. O que fazer no Natal, Carnaval e Páscoa e ainda alguns dias do Verão que sobram no calendário?
Não será já tempo de moralizar o calendário escolar e fazê-lo corresponder ao tempo de férias das famílias?
Hoje reparei que a filha da recepcionista da instituição em que trabalho estava encolhida a um canto no vestiário dos seguranças, sem qualquer luz natural, enquanto tentava entreter-se com um desenho. Obrigada a passar ali dias a fio, será traumatizante perceber que está a mais; que, nesta altura, é um estorvo/problema a sua existência para a sociedade: para a entidade empregadora da mãe/pai, para os colegas da mãe/pai e, eventualmente, para os próprios pais, que não têm outra solução.
Acredito que esteja empenhado em mudar alguma coisa e esta é uma matéria que deve dominar a agenda da Educação, das Escolas e Educadores. As crianças não precisam da ociosidade: precisam de quem as ensine, as forme, as acompanhe em actividades educativas e lúdicas.
Os especialistas alertam inúmeras vezes para os perigos da ociosidade, bem como para o sedentarismo, que está associado a demasiado tempo passado em casa, sem desenvolvimento de actividade, em frente à televisão ou a outros meios de comunicação.
Se fizermos um cômputo a todos os dias que estarão em casa, não contando com fins-de-semana e feriados, percebemos que terão 8 meses de aulas e 4 meses de descanso. Não será de questionar o que conseguirá ensinar-se aos nossos alunos em tão pouco tempo?
Não conseguirá facilmente verificar-se uma relação causa efeito entre os tão malogrados resultados escolares dos alunos portugueses com o calendário escolar que os (des)ocupa?
Não temos todos o dever de aplicar também alguma austeridade na educação que damos aos nossos filhos e, com esse objectivo, transmitir-lhes também os valores da responsabilidade, empenho, esforço e dedicação que cada um de nós deve ter para com a sociedade e o país a que pertence e simultaneamente fornecer-lhes mais tempo de conhecimento, formação e desenvolvimento de competências?
É possível mudar, Senhor Presidente. Contamos consigo.
