Rejeitamos a Estátua - Carta Aberta (da Indignação)
Para: Cidadãos
Se tivesse sido um católico inspirador, uma figura de referência pelo contributo prestado às artes ou às letras, um cidadão exemplar ou um modelo de bracarense e de português, não se estranharia que a Câmara Municipal de Braga aprovasse a colocação de uma estátua do cónego Melo no espaço público.
O certo é que o cónego Melo é o máximo divisor comum. Tanto que apenas a maioria PS no executivo camarário se manifestou a favor da estátua, tendo o CDS e o PSD decidido abster-se, o que suscitou uma ressentida carta aberta dos promotores da iniciativa, um reduzido grupo de cidadãos que, desde 2002, reclama a colocação da estátua, indignados com a afronta da abstenção.
Esta iniciativa nunca suscitou o aplauso dos cidadãos, sendo muito significativo o facto de não ter sido acolhida com simpatia pela Igreja Católica. Esta iniciativa sempre suscitou a firme e pública objecção de amplos sectores da sociedade bracarense e nacional.
A colocação no espaço público duma estátua do cónego Melo divide os cidadãos, reabre feridas antigas e mais não faz do que a apologia do ressentimento, a marca de água de quem sempre tem convivido mal com a democracia e a liberdade. A estátua constituiria ainda uma despudorada instrumentalização do espaço público, consagrando, por oportunismo eleitoralista, uma relação pouco transparente entre o poder político e certos agentes económicos.
O cónego Eduardo Melo foi sempre, sobretudo, um exemplo de conúbio com os poderosos seus amigos. Nos favores e no negócio de influências, residia o seu poder.
Braga e Portugal estão repletos de homens e de mulheres ilustres, íntegros, valorosos e merecedores do nosso respeito e gratidão. Gente que, reconhecidamente, serviu o bem comum. Não é o caso presente.
Esta pretensa homenagem afronta a Memória e a Decência. Não respeita ninguém.
Esta é a razão pela qual manifestamos a nossa indignação.