Pelo Estudo da Literatura Portuguesa no Ensino Brasileiro
Para: Exmº Sr. Dr. Aloizio Mercadante Oliva, Ministro da Educação da República Federativa do Brasil
1. Nós, cidadãos brasileiros e portugueses, não queremos que o Ministério da Educação (MEC) do Brasil elimine a obrigatoriedade do estudo da literatura portuguesa, proposta no documento Base Nacional Comum Curricular de 2016.
2. Repudiamos essa proposta contra a lusofonia e contra as afinidades culturais e a unidade em torno da língua dos países de fala e escrita portuguesa que, noutros contextos, o governo brasileiro tem promovido.
3. Nós, cidadãos brasileiros e portugueses falamos o mesmo idioma, somos irmãos como conversadores e leitores e não aceitamos esta discriminação da cultura europeia e da literatura portuguesa por enviesamento político.
4. Esta mudança só pode interessar a quem acha que Portugal ainda vive no passado, como metrópole que explorou riquezas coloniais, escravizou populações negras e indígenas na América e na África. Esquece que Portugal iniciou a terceira vaga mundial de democracia em 1974
5. Esta cultura do ressentimento que, para dar justa voz à cultura dos oprimidos, quer punir a velha Europa como se toda ela fosse elitista e opressora, é ideologia errada e fora do tempo.
6. A literatura portuguesa sempre foi de raiz humanista, sempre teve escritores lúcidos e críticos dos processos de colonização e com propostas de utopias generosas, como o padre António Vieira.
7. Queremos que os brasileiros, tal como os portugueses, continuem a aprender Camões, Fernando Pessoa, Vieira. Eça de Queiroz e Saramago para melhor conhecer as suas origens e contextos produtivos do diálogo Brasil/Portugal.
8. Para compreender a cultura popular nordestina, não tem como não saber da literatura medieval da Península Ibérica. Para entender "Morte e Vida Severina", de João Cabral de Melo Neto, e "Auto
da Compadecida", de Ariano Suassuna, precisa ver o teatro português de Gil Vicente.
9. Tudo considerado, pedimos, reiteramos e exigimos que seja retirada do documento BNCC de 2016 a eliminação da obrigatoriedade do estudo da literatura portuguesa.