Petição pela Linha do Corgo
Para: Presidente da Assembleia da República Portuguesa
Petição pela Linha do Corgo
Dirigida a Sua Excelência a Presidente da Assembleia da República Portuguesa.
A Linha do Corgo é uma Via Estreita que liga o Peso da Régua a Chaves, passando pelos centros urbanos de Vila Real, Vila Pouca de Aguiar, Pedras Salgadas e Vidago, servindo 5 concelhos do distrito de Vila Real, numa extensão de 96 km. Foi inaugurada por fases, de 1 de Abril de 1906 a 28 de Agosto de 1921, e chegou a prever-se a sua ligação às Linhas do Tâmega e de Guimarães, formando uma rede coesa que nunca foi concluída. Serve directamente uma população aproximada de 56 mil habitantes, isto contabilizando apenas as freguesias por onde o traçado discorre, desde a Régua a Chaves.
A 1 de Janeiro de 1990 foi encerrado o troço Vila Real – Chaves, que durante décadas foi denunciado pela região como vítima de gestão danosa da CP, que a asfixiou com um número incipiente de circulações em horários desajustados e com material circulante anacrónico.
A 25 de Março de 2009, sem aviso prévio, o troço de 25 km entre a Régua e Vila Real foi encerrado para obras de modernização. Após o levantamento da super estrutura da via – balastro, travessas, material de fixação e carris – as obras de modernização da Linha do Corgo, orçadas nuns duvidosos 23,4 milhões de euros, foram abandonadas devido supostamente a cortes orçamentais, não se sabendo quando serão reatadas. As automotoras da série 9500 adstritas a esta via estão paradas e sem manutenção nas oficinas do Corgo, Peso da Régua, em risco de necessitarem de substituição integral de vários componentes por falta de utilização. Os transportes alternativos por autocarro percorrem estradas que não se coadunam com este tipo de serviço, sobretudo no período de Inverno com o piso coberto de gelo, e recolhendo passageiros em pontos perigosos e desabrigados. No decurso de Setembro de 2011, a CP ameaçou terminar com este serviço de substituição, deixando populações e utentes sem comboio nem autocarro, atirando-os para alternativas de mobilidade mais onerosas ou deixando-os simplesmente sem alternativas.
Em 19 anos o distrito de Vila Real perdeu 96 km do total de quase 145 km de vias-férreas de que dispunha entre 1921 e 1989, o que somado à perda do transporte de mercadorias deixou o desenvolvimento da região entregue quase que em exclusividade à rodovia. No plano rodoviário do distrito sublinham-se os eixos das auto-estradas A7 (Vila Pouca de Aguiar – Póvoa de Varzim), A24 (Vila Verde da Raia – Viseu) e A4 (Matosinhos – Quintanilha), que futuramente serão portajadas com tarifas das mais caras do país – à excepção da A7 que já é portajada.
Os resultados directos desta política de destruição do caminho-de-ferro no distrito continuam a ser os da perda de mobilidade de uma população cada vez mais composta maioritariamente por idosos, e de localidades com cada vez menos serviços básicos e de transporte, para além do encarecimento do custo das deslocações e das matérias-primas e produtos que transitam de e para a região. No final, sobra um custo de vida cada vez maior e uma qualidade de vida cada vez menor, para além da inexistência do combate à poluição advindo do sector do transporte, que, sozinho, é ainda responsável por quase um terço das necessidades energéticas do país.
Nas palavras do actual Primeiro-Ministro de Portugal, “Nós precisamos de ter investimento de mais proximidade que crie mais emprego e seja mais produtivo e investir menos em coisas onde se fizeram mal as contas e que vão provocar prejuízos de milhões e milhões de euros que nos vão custar muito a pagar nos próximos anos”. A reabertura da Linha do Corgo – infinitamente mais barata que muitas obras megalómanas, algumas das quais transformaram Portugal no país Europeu com mais quilómetros de auto-estradas per capita e com as portagens mais caras – com benefícios alargados a vários sectores económicos e sociais, é um desses investimentos de proximidade de que o país tanto precisa.
Desta forma, os signatários desta Petição subscrevem a aprovação por parte do Governo e da Assembleia da República das seguintes medidas:
1. A reabertura do troço Régua – Vila Real em 2012, com super estrutura e respectiva instalação conducentes à exploração comercial para passageiros e mercadorias em patamares de velocidade e de conforto superiores aos previamente existentes, e que permitam maior durabilidade e fiabilidade da via;
2. A reabertura do troço entre a estação de Vila Real e o PK 25,700 integrada na reabertura supra citada, para a construção de um apeadeiro que sirva o centro comercial próximo, rentabilizando assim o investimento na via;
3. A reabertura do troço Vila Real – Chaves, nas mesmas condições que as propostas no ponto 1, numa fase imediatamente posterior à reabertura do troço Régua – Vila Real – PK 25,700, preferencialmente fazendo parte do mesmo projecto;
4. A reintrodução do transporte de mercadorias, numa lógica regional, nacional e internacional, catalisando a Plataforma Logística de Chaves, a riqueza do complexo das fontes termais da região, a extracção de granitos e mármores de Vila Pouca de Aguiar, bem como de outros recursos endógenos da região;
5. A renovação da frota comercial existente, com comboios que disponham de WC e outras comodidades que não existem na série 9500;
6. A oferta de níveis de conforto adequados nas salas de espera de todas as estações e apeadeiros;
7. A adequação dos horários às necessidades de mobilidade das populações, em articulação com a linha do Douro e às várias carreiras de autocarro que se cruzem com as estações da Linha do Corgo sempre que possível;
8. A criação de serviços turísticos com carácter permanente;
9. Apoiar o estudo de interligação da Linha do Corgo a outras linhas ferroviárias da região ou transfronteiriças, no contexto de uma rede ferroviária convencional alargada e modernizada.
Para mais informações sobre a Linha do Corgo e as nossas sugestões para a sua reabertura, queira por favor visitar o site do MCLC – Movimento Cívico pela Defesa da Linha Corgo, em http://linhaferroviariadocorgo.wordpress.com
Vila Real, 10 de Outubro de 2011.
