Os espaços verdes são fundamentais no adequado planeamento e gestão de uma cidade, mitigando substancialmente o impacto das consequências negativas da atividade humana. De acordo com a ONU, as cidades ocupam apenas 3% da superfície terrestre, mas representam 60% a 80% do consumo de energia e 75% das emissões de carbono de todo o mundo.
O crescimento e desenvolvimento de uma cidade tem um impacto substancial e inevitável no território: a concentração de edifícios e estradas impermeabiliza o terreno, afetando a circulação da água, o equilíbrio do solo, a continuidade dos habitats, a biodiversidade, a poluição e a temperatura local.
A criação e ampliação de espaços verdes urbanos tem o potencial não só de reduzir o impacto negativo a nível ambiental como também de contribuir significativamente para o bem estar físico e mental das populações.
Pesquisas realizadas em cidades de todo o mundo, bem como estudos científicos na área da saúde têm identificado a natureza como uma arma terapêutica contra o stress da vida urbana: além dos espaços verdes urbanos ajudarem a diminuir sintomas de ansiedade e depressão (problemas que têm aumentado muito significativamente nos últimos anos) também têm mostrado benefícios na saúde cardiovascular e respiratória das pessoas que os frequentam. Diversos estudos sobre a relação entre saúde infantil e espaços verdes nas cidades sugerem, por exemplo, que as crianças que frequentam escolas em zonas mais urbanizadas e com menos espaços verdes têm maior risco de obesidade e maior sensibilidade a alergias do que as crianças que vivem em locais com mais vegetação.
Os espaços verdes urbanos atenuam as “ilhas de calor urbano” (zonas da cidade onde a temperatura é mais elevada devido à presença de materiais que absorvem o calor – como o cimento ou o asfalto). Um estudo recente realizado na cidade de Lisboa, concluíu, por exemplo, que nas ruas arborizadas a temperatura era, em média, 1ºC mais baixa do que em ruas sem vegetação, podendo estas diferenças chegar aos 3,7ºC.
As árvores urbanas funcionam como um filtro para poluentes e partículas finas, ajudando a reduzir a poluição nas cidades.
Pela concentração de prédios, estradas e outras construções, o solo das cidades é compacto e pouco permeável, originando fenómenos extremos associados às alterações climáticas, nomeadamente em períodos de chuva abundante. Por não ser absorvida, parte da água escorre das zonas altas e tende a acumular-se nas zonas baixas, criando inundações. A vegetação reduz drasticamente este fenómeno: por um lado, copas e folhagens impedem que a totalidade da água chegue ao solo, retendo-a até que evapore; por outro lado, absorvem parte da água do solo, que vão depois libertando lentamente através da transpiração. Por último, as raízes tornam a terra mais arejada, permitindo a infiltração de maior quantidade de água, que irá abastecer as reservas subterrâneas.
As árvores ajudam a reduzir a poluição sonora, servindo de barreira à propagação do ruído.
Melhorar e aumentar espaços verdes (parques urbanos, corredores verdes, vegetação em arruamentos, etc.) reduz a fragmentação de habitats, contribuindo para o aumento da biodiversidade urbana e, por essa via, para o equilíbrio dos ecossistemas e manutenção das capacidades naturais vitais dos mesmos, como a purificação do ar ou a qualidade da água.
De acordo com o recente estudo sobre a avaliação do impacto da Reserva Mundial de Surf da Ericeira (RMSE) na última década, o crescimento económico que o ‘surf’ trouxe, com o aumento do número de turistas, aumentou a pressão urbanística e o tráfego e a RMSE “não teve um reflexo positivo na qualidade de vida dos residentes”, uma vez que os espaços verdes não aumentaram à mesma proporção. Da mesma forma, a crescente publicidade turística nacional e, especialmente, internacional à Ericeira, não obstante os benefícios que possa trazer para o crescimento da localidade, tem agravado sobremaneira o problema supracitado.
Assim, pretende-se com esta petição apelar às entidades responsáveis que intervenham no sentido de criar mais espaços verdes na vila da Ericeira, permitindo um planeamento mais equilibrado do território e contribuindo, dessa forma, para a diminuição do impacto ambiental da atividade humana bem como para a melhoria da qualidade de vida da sua população.
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