A Câmara Municipal de Ferreira do Alentejo apresentou publicamente a 16 de março de 2019, no Centro Cultural Manuel da Fonseca, o seu Projeto de Operação de Reabilitação Urbana (disponível em https://ferreiradoalentejo.pt/wp-content/uploads/2019/02/capa_oru.pdf). Neste Projeto estão identificadas várias áreas a intervencionar, entre as quais o antigo cinema, o CINE FERREIRENSE.
Este imponente edifício de grande valor arquitetónico e cultural na história da vila perdeu o seu brilho e está ao abandono há mais de 20 anos. Uma vez que é tão relevante a sua presença na malha urbana, é imperativo que a Câmara Municipal tome responsabilidade sobre ele e lhe devolva a sua merecida dignidade.
A intenção parecia ser razoável quando se refere no projeto: «O antigo Cinema de Ferreira do Alentejo constitui uma importante referência sociocultural, estando a Autarquia empenhada na sua regeneração. A importante aposta de investimento no desenvolvimento e promoção da oferta cultural de qualidade, através da diversificação de atividades que contribuam para a atratividade turística de Ferreira do Alentejo, em paralelo com o objetivo da Autarquia, de preservação e valorização do património arquitetónico identitário da vila, são fatores que justificam e reforçam a intensão de intervenção no referido imóvel.».
O problema surge quando se mascara de reabilitação a intenção de demolir: «A intervenção a realizar, pretende recuperar parte do edifício, preservando a memória da sua identidade arquitetónica e dotando-o de condições construtivas e funcionais que respondam às atuais exigências legais, em termos de segurança, conforto e eficiência energética. O programa funcional deverá ser ajustado às funcionalidades que se pretende para este novo espaço, procurando-se espaços polivalentes dotados de condições para a sua utilização por diferentes acontecimentos culturais. (…) Como se refere, anteriormente, pretende-se a reabilitação de parte do edifício, propondo-se a demolição parcial do mesmo, proporcionando a criação de um espaço exterior, interligado com o edifício e com o espaço público envolvente, integrando de uma forma aberta e contínua, este espaço cultural na malha urbana. (…) Assim, a estruturação do espaço ocupado pelo antigo edifício do Cinema, contemplará a definição de um espaço construído, através da manutenção da parte mais nobre da edificação existente, a criação de um espaço público exterior, adjacente ao edificado e a definição de uma pequena bolsa de estacionamento de apoio.».
A intervenção pretende assim criar mais uma praça entre as já existentes Praça Comendador Infante Passanha e Praça de Santa Maria Madalena, sem justificar o porquê de se classificar uma ‘parte mais nobre da edificação existente’ a manter e o restante património a demolir. É ainda de salientar que se pretende usar este espaço exterior para eventos culturais quando, recentemente, foi feito um investimento por parte da Câmara Municipal em criar uma cobertura para o anfiteatro existente no jardim público de modo a valorizar esse espaço para o mesmo efeito.
Para além disto, foi adjudicado o projeto de consulta prévia para a reabilitação do cinema à empresa Brito Colaço – Reabilitação e Reforço na Construção, Lda. por 16.888,00€ (http://www.base.gov.pt/base2/rest/documentos/743416), cujo gerente único é o Sr. Rui Colaço, também detentor de um alojamento local na frente do cinema, levantando assim uma questão grave de conflito de interesses.
Em suma, consideramos que a opção de demolir parte do imóvel Cine-Ferreirense por iniciativa da Câmara Municipal não está devidamente fundamentada, pelo que deve ser reconsiderada e tida em conta a valorização do património existente para a criação de uma sala de espetáculos devidamente qualificada em falta no município, através da reabilitação integral do mesmo.
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