Petição Pública
NÃO AO REGRESSO À "NORMALIDADE"

Assinaram a petição 224 pessoas
“Se você não está confuso, então não está prestando atenção”
Edward Murphy
"Quando sairmos desta pandemia, não poderemos continuar a fazer o que estávamos a fazer, e como estávamos a fazer. Não. Tudo será diferente"
Papa Francisco

A Humanidade não pode e nem deve ficar indiferente perante as nuvens negras que pairam sobre o seu porvir, este, marcadamente, comprometido por ação de um sistema que, ignorando os limites impostos pela natureza, a desafia e a agride, pondo em causa a própria vida no planeta.

Apesar dos alertas e chamadas de atenção, os que comandam o mundo fizeram e fazem orelhas moucas aos apelos e gritos de alarme dos inconformados com o rumo que o planeta está a tomar. Para além de cultivarem um certo autismo metódico que nada vê e nada sente, geralmente, estão sempre prontos para ceder às pressões, senão mesmo, a adotar uma postura conivente, com os que não se cansam de explorar, lucrar, desumanizar e de tornar o mundo tão desigual quanto injusto.

A Humanidade foi tomada pelo individualismo exacerbado, pela ganância e o egoísmo sem limites, e pela perda de valores essenciais, sobretudo valores do humanismo, que caraterizaram, fortemente, épocas de partilha e de solidariedade. E, por conta dessa visão interesseira e predadora, o mundo foi transformado num paraíso para uns poucos, e, simultaneamente, num inferno para maioria dos seus habitantes.

Quando tudo fazia crer que tínhamos alcançado um nível de desenvolvimento irreversível, onde não seria possível acontecer uma crise com estas características, eis que tudo, de repente, se colapsa: empresas falidas ou recebendo apoio do Estado, milhões de desempregados, milhões de pessoas na pobreza e a receber cestas básicas, centenas de milhares de pessoas mortas e milhões de infetadas pelo vírus.

Esta crise veio demonstrar, de forma cristalina, a fragilidade dos alicerces que sustentavam a ideia, aparentemente consensual, do desenvolvimento das sociedades atuais, assente num modelo de livre iniciativa, de essência concorrencial e mercantil, que se acreditava fosse autorregulável e autossuficiente, cuja aparente e ilusória eficácia levou a que se empurrasse o Estado para um papel marginal.

No entanto, estando o mundo a confrontar-se com uma das piores crises de sempre, seria legítimo esperar que os mercados, os banqueiros, os multimilionários, as bolsas de valores, os paraísos fiscais, viessem em socorro das sociedades, de onde tiraram e tiram as suas grandiosas fortunas nos momentos da “normalidade”. Puro engano! Como que por encanto, simplesmente, se evaporaram.
Hoje, ninguém tem dúvidas que o modelo de sociedade que nos foi proposto fracassou e que novas soluções e caminhos devem ser procurados.

Impõe-se, como uma necessidade imperiosa, repensar e redefinir o papel do Estado, numa sociedade que se quer mais humana e fraterna, mais cooperativa e solidária.

Ora, chegados à situação em que nos encontramos, facilmente se pode concluir que, assim como está, não podemos continuar!

Conhecemos os caminhos que nos trouxeram a esta situação, e sabemos que, a continuar nesta direção, o nosso futuro estará gravemente comprometido.

Ocorre, que muitos dos responsáveis do nosso planeta, sem terem minimamente refletido sobre o que se passa à nossa volta ou sobre a razão porque chegamos a estas circunstâncias, começam a falar do regresso à “normalidade”, à velha “normalidade”, como se nada tivesse acontecido.

Parece que, para além de não se ter aprendido nada com esta crise, se quer que continuemos a caminhar, alegremente, rumo a uma hecatombe, num planeta doente, onde não seja possível um ser humano sequer respirar.

Nós não queremos, e não aceitamos regressar à velha “normalidade”.

Os subscritores, desta petição, aspiram viver num mundo melhor e mais justo!

Queremos trabalhar na construção de uma outra e nova normalidade onde o homem seja o centro e o fim último da ação humana.

Somos por uma normalidade que considere que:

1) A solidariedade não seja uma palavra vã, e que o homem e o seu bem-estar estejam no centro de todas as prioridades;

2) A organização democrática da sociedade seja repensada, e que haja garantia de participação efetiva dos cidadãos na vida e na condução da sociedade, através de mecanismos fiáveis, inovadores e democráticos;

3) O papel do Estado seja redefinido. O Estado deverá ser colocado no centro de toda organização social, em decorrência das lições, recentemente aprendidas, que já sugerem pela necessidade de um novo desenho do Estado. Um Estado necessário que não seja espectador das dinâmicas da sociedade e nem um elemento marginal do nosso sistema social;

4) A política esteja ao serviço das pessoas e do bem-comum, e que a governação das nações seja pautada pela transparência e pela verdade;

5) A economia seja dirigida para o homem e não o homem para a economia. A economia deve estar ao serviço do bem-estar de todos e em beneficio de toda a humanidade;

6) A competição, reinante no modelo da antiga “normalidade”, seja substituída pela cooperação. A cooperação entre os diversos agentes e atores sociais são fundamentais para a construção de uma sociedade mais justa e solidária;

7) A ganância e o egoísmo, que são geradores de desequilíbrios sociais, de injustiças e de desigualdades, cedam lugar a sentimento de partilha, ao espírito altruísta e à convivência comunitária saudável;

8) Os lucros desmedidos, as grandes fortunas, as transações financeiras especulativas passem a ser taxadas, revertendo-se o produto dessas receitas a favor de um fundo de enfrentamento de crise, cuja função seria atender às situações de crise análogas à que ocorre no presente, evitando que o Estado - o enfraquecido Estado - seja o habitual bombeiro para fogos as mais das vezes provocados pelos beneficiários do sistema;

9) As respostas já adotadas, por força da crise sanitária, passem a fazer parte da nova “normalidade”. Soluções como teletrabalho, telescola, reuniões virtuais, take away ou delivery, entre outras opções digitais, deverão fazer parte do “novo normal”;

10) Sejam realizadas apostas firmes na ciência e inovação, bem como um forte investimento na tecnologia e plataformas digitais, enquanto ferramentas decisivas na viabilização de uma dinâmica inovadora, passível de gerar uma nova economia, novas oportunidades e novos relacionamentos sociais e culturais.

Assim, nós, os subscritores desta petição, apelamos, solenemente, aos poderes públicos que reflitam sobre o que se passou no mundo e em Cabo Verde em decorrência desta crise sanitária;

Que esta reflexão seja pautada pelo princípio de participação, de objetividade e de não condicionamento da agenda a qualquer preconceito;

Que o regresso ao novo “normal” seja um momento de abertura de espírito, de procura de novos caminhos e soluções inovadoras que, no seu conjunto, contribuam para a construção de um mundo melhor e mais solidário.


Os subscritores
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