A recente colocação de esculturas no espaço público de Lisboa (em anexo neste documento), quer na Praça do Município, quer em Belém, representa uma ofensa grave ao espaço que é de todos, ignorância e insensibilidade, provincianismo e incompetência.
Eventualmente por mera coincidência, os três bustos, da autoria de dois autores diferentes, têm em comum a mesma literalidade, incompetência plástica e escultórica e a capacidade comum de afetarem negativamente o espaço público de enorme qualidade urbana, arquitetónica e paisagística onde se encontram instaladas. No caso das esculturas de homenagem aos médicos colocada em Belém, a situação é sobretudo caricata, na medida em que a bondade do propósito é denegrida pela mediocridade das esculturas.
A colocação de obras de arte no espaço público deve ser objeto de uma aturada reflexão: a partir do momento em que são colocadas ficam alcandoradas à dimensão de monumentos, com toda a responsabilidade que a essa condição advém, nomeadamente a sua vocação de perenidade e de referência futura. A arte no espaço público não carece da nossa vontade de a fruir, ao contrário do que acontece num museu ou numa galeria. Aí, a escolha da visita é do espectador. No espaço público, somos confrontados com o que não escolhemos ver, o que implica uma acrescida responsabilidade de quem encomenda e decide.
No caso presente, a falta de qualidade das obras remete-as para o puro nível da poluição visual, não possuindo qualquer qualidade estética que mereça a sua permanência.
A responsabilidade recai, portanto, sobre quem decidiu da sua colocação, sobre o processo leviano da escolha dos projetos, sobre a arrogância de pretender deixar tal legado à cidade. Mais, sujeitam os autores das obras a um escrutínio público extremamente negativo, que a sua dimensão não merece.
Assim, os presentes signatários solicitam:
- A retirada dessas peças do espaço público, por afectar negativamente, como aqui é o caso, a imagem da cidade;
- A obrigatoriedade de sujeição de todos os projetos de arte no espaço urbano a avaliação prévia por parte de uma comissão que inclua, não apenas os técnicos indispensáveis para avaliar a exequibilidade material e financeira de cada projeto submetido, mas também especialistas de reconhecida qualidade para a aferição do valor estético de cada proposta.
Ver Mais...